Pesquisar este blog

sábado, 19 de novembro de 2011

Vivendo e aprendendo...

Se eu dissesse para alguém “Minha derrota é certa!”, provavelmente a pessoa olharia para mim com uma cara de “quanto pessimismo”. O fato é que a mesma frase poderia ser uma expressão de otimismo... Explico!

Outro dia um amigo pediu para que eu verificasse a frase “Dada por finda a nossa derrota”, da Canção do Marinheiro[1] – sem consultar alguma fonte, apenas entendi que a frase queria dizer que a partir daquele momento não haveria mais perda, apenas vitórias... Ledo engano! Meu amigo deu a dica e pediu que eu verificasse a origem da palavra. Lá estava!!! 

Etimologia da palavra “derrota”:
de- +rota 'caminho', do fr. route (1121-34)'via, caminho, rota',der. do snt. lat. rupta (via) 'caminho rasgado, desbravado', donde 'caminho que se costuma seguir, rota', red. a rupta, fem.substv. do lat. rúptus,a,um,part.pas. de rumpère 'romper'; o der. vern. 1derrota é f.divg. de 2derrota, esta com orig. no fr.ant. desro(u)ter/desruter 'debandar, pôr em fuga', do lat. dirúptus,a,um 'quebrado, desordenado', part.pas. do v.lat. dirumpère 'romper, quebrar, desorganizar'; ver romp-[2].

É isso: Nossa derrota é certa!!! Ou não...


[1] Letra: Segundo Tenente (Refº) (Marinha do Brasil) - Benedito Xavier de Macedo
[2] Houaiss online.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Reclamação de um ateu

Recebi dois links de vídeos que uma leitora me enviou para saber minha opinião. Um deles, eu ouvi com sacrifício, porque eu tenho grande dificuldade de lidar com radicalismos, de qualquer origem, mas é sempre proveitoso analisar opiniões, confrontar nossas próprias ideias e tirar o que, na opinião do receptor, for bom. O vídeo era um desabafo de um ateu indignado porque um prefeito instituiu o Ensino Religioso nas escolas de sua cidade.

Há uma ideia errada que circula na sociedade, que é achar que todo ateu é [1]inteligente, e que é por causa do excesso de inteligência que ele não crê em Deus. Como, para algumas pessoas, o conceito de Deus não é inteligível, não cabe em uma “mente superior”. Eu arriscaria dizer que o próprio ateu pode pensar que é o supra summu do conhecimento e, por isso, eliminou do seu repertório essa coisa prosaica de fé. É claro que não é o excesso de inteligência que impede uma pessoa de aceitar crer ou não crer. Há um conjunto de fatores que contribuem para uma pessoa fazer essa escolha, que pode ter forte participação da inteligência... Ou não! Também diria Caetano que “Narciso acha feio o que não é espelho”[2]. Fatalmente o ateu vai pintar o religioso de “diabo” e o religioso simplesmente eliminará a possibilidade de existência do ateu. É isso que torna o verso de Caetano universal: reflete a natureza humana ou, talvez, desumana. 

Não indico o tal link porque o autor trata com desrespeito qualquer pessoa que não concorde com ele. O interessante do vídeo é o fato do autor sugerir que aceitaria o ensino religioso nas escolas se fosse levado como história das religiões. É singela a forma inocente como ele faz a sugestão, porque até a pessoa com a menor carga de inteligência pode saber que não há discurso sem intenção. Quem faz a história é o historiador e não os fatos. Tanto é assim que, no passado de muitos de nós, Pedro Álvares Cabral era o descobridor e praticamente “o salvador” do Brasil, Tiradentes era a imagem da salvação... E por aí vai. Hoje, outros historiadores contam outras histórias... Mas sempre é possível que haja grupos ou pessoas que trabalhem pela informação, é difícil encontrar, porém, tudo é possível ao que crê. Um bom exemplo disso é a revista História das Religiões, publicada recentemente pela Editora Abril; também o sociólogo francês Émile Durkheim apresenta ideias interessantes de seus estudos sobre o fenômeno religioso.

Na minha experiência de vida, encontrei dois tipos de ateus: aquele que tem algum problema não resolvido com a questão religiosa, revolta pelo que chamaria de ausência de Deus em momentos difíceis de sua vida - e esse tipo, em geral, fala de religião com desprezo; e o outro tipo é o bem resolvido, esse é o tipo de pessoa que lida bem com sua maneira de pensar, não levanta bandeiras, simplesmente tem opinião firme. De qualquer maneira, o ateu é uma pessoa de extrema fé, porque é preciso ter muita fé para olhar as leis da natureza, olhar a si mesmo, não ter a menor ideia de onde veio tudo isso nem para onde vai e mesmo assim não cogitar a possibilidade de uma inteligência superior no comando disso tudo – mesmo que a explicação para essa postura seja a podridão das sociedades.

Sobre a podridão das sociedades, precisamos reconhecer que a direção de uma nação está principalmente nas mãos do governo que gera recursos para projetos, cria leis etc. e nas mãos da mídia que diz o que quer, como quer, no momento que quer. O povo recebe tudo, a maioria assimila porque é bombardeado de todos os lados e fica valendo o “Se não posso vencê-los, junto-me a eles”. O resultado disso em uma nação onde impera o mau caráter é uma sociedade perversa. Todos os sistemas ficam corrompidos: sistema de saúde, político, educacional, religioso... É comum atacar os sistemas como se eles se fizessem sozinhos. Sabemos que não é assim. Sabemos que pessoas criam sistemas corruptos. Os discursos estão sempre atacando os sistemas, e o que melhora? Nada. É preciso corrigir as fontes: governo e mídia.

O vídeo em questão também mostra algo muito sério: a manifestação da intolerância. O jovem fala sobre intolerância religiosa com uma postura e um discurso constituído pela intolerância. Certamente muitos irão gostar, apoiar e atirar mais algumas pedras nos “loucos religiosos”. O rapaz chega a dizer que se uma família ensinasse um credo para seus filhos deveria receber visita do conselho tutelar – melhor nem comentar isso. Como bem disse alguém em um blog a respeito do modo pragmático de resolver as coisas: “A verdade não tem mais de ser buscada; ela se encontra em nós mesmos pronta para ser usada e sem objeção alguma”[3]. Que pena para quem pensa e vive assim, porque só tem a si mesmo como referência. O mundo de uma pessoa só é muito pequeno... E o mundo de muitas pessoas há de enfrentar suas diferenças...



[1] 1. faculdade de conhecer, compreender e aprender
2. conjunto de funções psíquicas e psicofisiológicas que contribuem para o conhecimento, para a compreensão da natureza das coisas e do significado dos fatos
3 Rubrica: psicologia.
   capacidade de apreender e organizar os dados de uma situação, em circunstâncias para as quais de nada servem o instinto, a aprendizagem e o hábito; capacidade de resolver problemas e empenhar-se em processos de pensamento abstrato
(Houaiss on line)
[2] Música - Sampa.
[3] http://suprasummu.blogspot.com/ - consultado em 01 abr 2011.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sem texto e sem contexto

Já se deparou com uma situação em que um assunto está em pauta e alguém faz um comentário totalmente “nada a ver”?! Foi exatamente isso que fez a antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília e membro da diretoria da Associação Internacional de Bioética ao dar sua opinião sobre um assunto que se tornou notícia em todo o mundo.

*Uma bibliotecária italiana de 57 anos e um aposentado de 70, casados há 21 anos, decidiram ter um bebê com óvulos doados, após anos tentando uma gravidez, sem sucesso. Há um ano e sete meses, nasceu o bebê. A corte de Turim (Itália) entendeu que eles são velhos demais e não têm condições de criar, por isso colocaram a criança para adoção. O caso repercutiu porque a discussão gira em torno dos limites da maternidade/paternidade utilizando as novas tecnologias. Os juízes alegaram que eles foram "egoístas e narcisistas" e que "Eles nunca pensaram sobre o fato de que a filha poderia ficar órfã muito jovem ou seria forçada a cuidar de seus pais idosos na idade em que os jovens mais precisam de apoio" – eu só não entendi porque esperar a criança ser gerada para expressar essa opinião... 

Diante da associação feita entre gravidez tardia e egoísmo, a tal professora sai com essa: "é um valor cristão sobre a reprodução". Como assim?! Nem vale discutir a questão do casal, porque a própria lei do país não permite doação de óvulos, mas essa opinião da antropóloga é totalmente fora de contexto. Sendo o manual de valores cristãos a Bíblia, a professora perdeu a parte em que Deus comunicou a uma mulher de 100 anos que ela seria mãe. Tudo bem que não precisou de doação de óvulos, afinal, sendo Senhor da natureza, o próprio Deus interveio para possibilitar o fato. Mas uma coisa fica clara: o fator idade nunca foi problema para maternidade/paternidade segundo os valores cristãos. 1O casal Abraão e Sara é o melhor exemplo disso!


* Notícia em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/997439-pais-velhos-perdem-guarda-de-bebe-na-italia.shtml - 27 de outubro de 2011.
1 Gênesis 21

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Games of thrones - breve leitura

A literatura não tem como seu objetivo principal a informação, a despeito disso, produz conhecimento por ser um meio de comunicação que reflete a sociedade em que os textos são produzidos. Mesmo quando o texto retrata uma época diversa daquela em que se localiza o texto, os valores se mesclam. A literatura é um meio de diversão – embora algumas escolas insistam em transformar em instrumento de tortura. E no meio da diversão há muitas informações que são assimiladas de forma intencional e não intencional. 

A produção literária contemporânea tem insistido fortemente na espiritualidade como temática[1], seja de forma ostensiva ou discretamente. O grande problema da inserção de valores do campo espiritual é quando isso é feito de forma que o leitor assimila o valor sem percepção real do que captou. A dificuldade de interpretar o texto é a grande vilã dessa história. Nesse sentido, a Análise do Discurso[2] contribui imensamente para fazer o leitor “cair na real”. O que ele leu de fato? O que está escondido entre as linhas do texto que, embora revelado, é tão obscuro?

Um exemplo interessante é encontrado em A Song of Ice and Fire[3] (As Crônicas de Gelo e Fogo – livro dois. Os trechos descrevem uma situação entre o rei – Lorde Stannis; o conselheiro do rei – meistre Cressen; e uma mulher feiticeira conselheira da esposa do rei – Melisandre. O rei, de forma inesperada, ridiculariza seu conselheiro em um banquete e se posiciona de acordo com os conselhos da feiticeira. O meistre Cressen, por sua vez, decide colocar veneno no vinho da feiticeira e partilhar a taça com ela. Ambos deveriam morrer ao ingerir o vinho, mas apenas ele morre, mesmo ela tendo partilhado da taça com ele. Interessante notar como a situação é tecida:

“Melisandre de Asshai[4], feiticeira, umbromante* e sacerdotisa de R’hllor, o Senhor da Luz, o Coração de Fogo, o Deus da Chama e da Sombra. Melisandre, cuja loucura não se podia deixar espalhar para lá de Pedra do Dragão.” (p. 19)

“Como sempre, trajava vermelho dos pés à cabeça, com um longo vestido solto de seda esvoaçante, brilhante como fogo, com longas mangas pendentes e profundos cortes no corpete, pelos quais se entrevia um tecido mais escuro, vermelho-sangue, que usava por baixo. Tinha em torno da garganta uma gargantilha de ouro vermelho, mais apertada do que qualquer corrente de meistre[5], ornamentada com um único grande rubi. O cabelo não era de tom alaranjado ou cor de morango dos ruivos comuns, mas de um profundo acobreado lustroso que brilhava à luz das tochas. Até seus olhos eram vermelhos… Mas a pele era lisa e branca, imaculada, clara como leite. E era esguia, graciosa, mais alta que a maior parte dos cavaleiros, com seios fartos, cintura estreita e um rosto em forma de coração. Os olhos dos homens que a encontravam não se afastavam facilmente, nem mesmo os de um meistre. Muitos diziam que era bela. Mas não era. Era vermelha, e terrível, e vermelha.” (p. 21).

“Os olhos de Lorde Stannis estavam na sombra das suas pesadas sobrancelhas, sua boca, apertada, enquanto o maxilar trabalhava em silêncio. Rangia os dentes sempre que se zangava.
– Bobo – ele rosnou por fim –, a senhora minha esposa ordena. Dê o elmo a Cressen.
Não, pensou o velho meistre, este não é você, não é o seu jeito, sempre foi justo, sempre duro, mas nunca cruel, nunca, não compreendia a gozação, assim como não compreendia o riso.” (p.23)

“Cressen tentou responder, mas as palavras ficaram presas na garganta. Sua tosse transformouse num terrível assobio agudo quando tentou inspirar. Dedos de ferro apertaramse em torno do seu pescoço. Quando caiu de joelhos, ainda balançava a cabeça, negandoa, negando seu poder, sua magia, negando o seu deus. E os guizos tiniam nos chifres, cantando tolo, tolo, tolo, enquanto a mulher vermelha o olhava com piedade, e as chamas das velas dançavam nos seus olhos tão... tão vermelhos.” (p. 24).

Os trechos transcritos podem ser lidos em três minutos. Mas para entender o que, de fato, seu cérebro registrou leva algumas horas. Algumas questões podem produzir reflexão e encaminhar o leitor para algumas respostas:

  1. Na pág. 19, as descrições da feiticeira incluem a quem ela serve em sua visão espiritual. Em nenhum momento é dito um nome específico, apenas termos que identificam o tal ser. Esses termos fazem intertextualidade com informações que levam ao nome por trás dos termos: “Senhor da Luz” – a Bíblia associa a luz ao Deus que se revela por meio de suas páginas e aos seus seguidores, mas não é esse Deus uma vez que mais adiante associa à sombra. O termo, então, pode ser associado a “Satanás se disfarça em anjo de luz[6]”. “Fogo” e “chama” são elementos que se complementam para a ideia de inferno, assim como “sombra” e escuridão. De quem, partindo desses aspectos, o texto realmente faz referência?

  1. Nas págs. 21 e 24, o vermelho[7] é extremamente significativo, ainda mais pela insistência na cor. Para compreender a representatividade da cor nesse texto não basta deduzir, é preciso verificar que a cor toma diversos sentidos, dependendo do contexto, o vermelho pode significar a Coca-Cola, a Ferrari ou o diabo. Para entender o uso da cor aqui é preciso se reportar aos aspectos culturais e contextuais. Para buscar a ideia do texto, é interessante ler a seguinte explicação:

“Quando claro, representa o lado masculino e quando escuro, o feminino, noturno, secreto; e os mistérios da vida. Diz-se que ele seduz, encoraja e provoca; alerta, em forma de sinais - como os de trânsito -, proíbe e inquieta. Convida a prostíbulos, transgredindo proibições e atiçando pulsões sexuais e de instintos passionais. Acredita-se que uma mulher vestida de vermelho jamais seria vista como inocente. Representante da carne e da possessividade.

O vermelho simboliza o fogo central, o ser humano e a terra. Para a alquimia, é o homem universal e o sangue da imortalidade. O chamado vermelho sagrado é a cor da alma, do coração, do esoterismo e da ciência. Relacionado a mares e oceanos, nomeia-os sob o mesmo simbolismo - o ventre, no qual vida e morte se transmutam. Símbolo de vida e morte, é a cor da guerra e da devastação (fogo e sangue), e a cor da salvação (Cruz Vermelha)”. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelho)

A associação com morte fica mais clara no contexto, porque há uma tentativa de assassinato e suicídio; e o conselho da mulher para o rei é que ele vá à guerra.

  1. O trecho da pág. 23 precisa ser entendido pelo contexto – a informação sobre a mulher leva a concluir que é discípula de Satanás, e a esse ser é atribuída a capacidade de possessão do corpo de alguém; a expressão “ranger de dentes” também contribui para o efeito de sentido, uma vez que essa é a expressão utilizada na Bíblia para descrever o estado dos que vão para o inferno - lugar de choro e ranger de dentes. Assim, quando o velho mestre pensa “este não é você, não é o seu jeito, sempre foi justo, sempre duro, mas nunca cruel, nunca, não compreendia a gozação, assim como não compreendia o riso”, não seria uma sugestão de que o rei está possuído por um ser maligno?!

  1. No último trecho, da pág. 24, há a descrição da morte do velho. O veneno fez efeito nele, mas não fez efeito na feiticeira. O ponto máximo desse trecho é a declaração de poder sobre a morte atribuído ao ser maligno que é objeto da fé daquela mulher. O velho morre achando que o Diabo não tem poder, não existe, e a repetição da música do bobo da corte é expressa em “tolo, tolo, tolo”. Não estaria o texto aí deixando clara a tolice daquele que nega o que está bem na sua frente?! O que faz a sociedade atual diante da feitiçaria, da destruição dos valores sociais?! A resposta para essa última pergunta é: “Eu nego, eu não vejo...”.

Isso é só um pouco do que pode ser extraído dos trechos acima. Há muito mais... No próximo texto, pretendo abordar um pouco mais dessa questão da espiritualidade presente na literatura contemporânea.


[1] Tenho trabalhado em uma pesquisa sobre esse assunto e espero partilhar mais alguns textos aqui no blog.
[2] Análise do discurso ou análise de discurso é uma prática e um campo da lingüística e da comunicação especializado em analisar construções ideológicas presentes em um texto. (http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%A1lise_do_discurso)
[3] MARTIN, George R. R. A fúria dos reis; trad. Jorge Candeias. – São Paulo : Leya, 2011.
[4] Cidade portuária que faz fronteira com a Terra das Sombras. Cidade notável por exportar diversas mercadorias, dentre elas Obsidiana. Rumores contam que Feiticeiros, Arcanos e Bruxos atuam livremente em Asshai. (http://www.edenpop.com/literatura/dicionario-de-as-cronicas-de-gelo-e-fogo)
[5] Do inglês Maester, uma corruptela de Mestre (Master). Titulo para os academicos e estudiosos que se formam em diversas areas da ciencia e ocultismo. (http://www.edenpop.com/literatura/dicionario-de-as-cronicas-de-gelo-e-fogo)
[6] II Cor. 11.14
[7] A palavra “vermelho” tem sua origem no latim vermillus, que significa "pequeno verme", remetendo-se à cochonilha, inseto do qual é extraído o corante carmim utilizado em tintas. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelho)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre o perdão...

Quando escrevemos filosoficamente, devemos ter o cuidado de fazer perguntas ao texto para nos certificarmos de que realmente expressamos nosso pensamento e não apenas formulamos frases de efeito. Nós precisamos também saber quem somos para que nos posicionemos de acordo com nosso sistema de valores; isso é algo que tenho insistido, exatamente por perceber que algumas afirmações não parecem andar junto com o papel social que as pessoas desempenham. 

Exemplo disso foi um texto escrito por uma pessoa que, com base nas informações que tenho, é cristã. Dizia o seguinte: “Não chego ao cúmulo de oferecer a outra face, que isso é coisa pra santo. Perdoo, mas me blindo. Se aprontou uma vez, aprontará outra. Fico na minha, me fortaleço e trato de viver cada dia melhor – nada irrita mais nossos inimigos”.

Fica claro que a pessoa está falando sobre o perdão. Nesse assunto, temos duas posições a tomar: uma baseada exclusivamente em nossa disposição de ânimo sobre a questão e a outra baseada no ensino cristão. A primeira é fruto de nosso repertório, que pode ter ou não influência cristã; a outra é a aceitação integral dos ensinos de Jesus. Quando a pessoa se posiciona como cristã e expressa uma opinião diversa daquela ensinada por Jesus e registrada nos evangelhos, temos uma grande contradição. Foi o que notei no texto citado.

A primeira frase diz “Não chego ao cúmulo de oferecer a outra face, que isso é coisa pra santo.” – ao dizer que oferecer a outra face seria o “cúmulo[1]”, além de colocar o fato de oferecer a outra face como um exagero, ainda diz que não faria tal coisa. A segunda frase confirma a anterior “Perdoo, mas me blindo[2]”. Essas afirmações vão de encontro ao ensino cristão expresso em Mateus 5.38-48[3]. Não haveria qualquer problema de alguém pensar assim, o problema é, se posicionando como uma pessoa cristã, bater de frente com o próprio fundador do pensamento cristão: Jesus Cristo.
 
A terceira frase é uma afirmação, no mínimo, preocupante: “Se aprontou uma vez, aprontará outra.” – Por um lado é uma afirmação redundante se pensarmos que estamos sujeitos a errar e voltar a errar, afinal, já foi dito que “herrar é umano”(sic); por outro lado, fica subentendido que, ao afirmar isso, a própria pessoa jamais cometeu erro algum contra outras pessoas. Sim, porque o rigor do tratamento indica que a própria pessoa não dá mais chance a quem errou; dificilmente alguém gostaria de ser tratado com esse rigor. No final do texto: “Fico na minha, me fortaleço e trato de viver cada dia melhor – nada irrita mais nossos inimigos.” – O texto parece indicar que a pessoa que comete um erro contra outra se torna inimiga. Se tomarmos isso como princípio para nossas vidas, viveremos isolados; começaríamos eliminando nossa família. A menos que apliquemos isso apenas com os de fora de nossa família. Mas no trabalho ou em qualquer outro ambiente também seria um problema. Sempre precisamos uns dos outros em algum momento... Mesmo aquelas pessoas que já aprontaram conosco! E quem nunca errou que atire a primeira pedra!!!



[1] Excesso, acréscimo não admissível. (Houaiss versão on line)
[2] Tornar(-se) resistente ou imune a ações ou influências danosas; proteger(-se), guardar(-se). (Houaiss versão on line)
[3] Bíblia

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Antes de condenar o português...

Já ouvi várias reclamações a respeito do estudo de Língua Portuguesa. Em geral, a nomenclatura e as regras assustam os estudantes, mas não há língua que não tenha suas regras e seus nomes estranhos. Isso parece ruim para quem não pretende gastar muito tempo com o conhecimento do idioma. O problema é que a comunicação é fundamental em qualquer ramo de atividade; e comunicação é feita também com o conhecimento do idioma utilizado pelos participantes da comunicação – seja o que produz a mensagem ou o que recebe. 

Você acha ruim decorar o nome de cada elemento? Imagine uma situação que ilustra essa questão da nomenclatura.  Pense em uma comunidade, cada um com sua função, tendo sua própria família, seus amigos, companheiros de trabalho etc. Todos nessa sociedade são chamados de “Pedro”. Você não terá dificuldade para decorar, porque é apenas um nome, certo? Que fácil! Agora, observe uma determinada situação em uma das famílias dessa tal comunidade. Uma família constituída por pai, mãe, três filhos e avós, todos morando na mesma casa. Certo dia, a mãe chega em casa e encontra um bilhete:
“Pedro,
Pedro foi com Pedro para a casa de Pedro. De lá, eles irão para a casa de Pedro. Vão ficar esperando você ir buscar.
Ass.: Pedro”

*Outra situação, a chamada na escola:
“Prof.: Pedro.
Aluno: Presente.
Prof.: Pedro.
Aluno: Presente.
Prof.: Pedro
Aluno: Presente.
Prof.: Pedro
Aluno: ...
Prof.: Pedro falta demais!!!” – o bom é que esse pode dizer depois: “Eu não faltei. Foi o Pedro!”

A notícia:
“Pedro morreu!” – essa é boa, porque ninguém reage até descobrir quem é Pedro. Até lá, vai se preparando!

Seria mais ou menos isso sem a nomenclatura no estudo da língua. Imagine a Língua Portuguesa como uma sociedade. Nessa sociedade tem uma família de palavras que responde pelo nome de preposição. A função da preposição é ser ponte. Ponte?! É... Por aí! Porque ela liga o que vem antes dela ao que está colocado depois dela. E ela pode mudar bastante o sentido da frase! Veja como duas palavras que se repetem podem dizer coisas diferentes apenas com a troca da preposição:

Falei a Pedro.
Falei ante Pedro.
Falei após Pedro.
Falei com Pedro.
Falei contra Pedro.
Falei de Pedro.
Falei em Pedro.
Falei para Pedro.
Falei perante Pedro.
Falei por Pedro.

E isso é só o começo da história. Para quem gosta de histórias de mistério, o estudo de línguas é perfeito!!!

Qualquer dificuldade, falem com o Pedro!


* Ideia retirada do filme RRRrrrr!!! - Na Idade da Pedra. Assista ao trailer aqui!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nem tudo que é luz...


Para entender alguns textos é preciso um repertório que corresponda ao que está expresso, muitas vezes de maneira codificada. Vejamos um exemplo:


Essa propaganda faz uso de diversos recursos textuais para transmitir sua mensagem – explícita e implícita. Para as mulheres a propaganda transmite a ideia de que o homem que usa aquela marca de cueca é “o cara”. Para os homens fica o apelo de ser “o cara” usando a tal marca. O que talvez o consumidor não pare para analisar são os recursos que dizem mais que isso.

Logo de cara o nome do modelo é citado na propaganda, recurso que não costuma ser muito utilizado, especialmente quando o nome faz um jogo de ideias com múltiplas interpretações. O nome “Jesus”, além de não ser dos mais comuns, é associado ao maior grupo religioso do mundo[1], e isso não é sem intenção... Não menos importante é o sobrenome do indivíduo - “Luz”, - palavra que traz um dos maiores ensinos do Cristianismo: “ser luz do mundo”[2], ou seja, ser o exemplo em ação. A associação é reafirmada pela imagem de fundo, do Rio de Janeiro, local onde se encontra a estátua do “Cristo Redentor”; para reforçar ainda mais, o modelo se coloca de braços abertos – depois disso tudo, só uma pessoa sem noção ainda tem dúvida de que aquele homem é colocado como uma figura a ser seguida... Não é essa a mensagem de quem fala de Jesus Cristo, o Filho de Deus?!

Não para por aí... A marca do produto é uma palavra de origem inglesa cujo som se associa com o verbo mexer na terceira pessoa do presente do indicativo – mexe – ou seja, na conjugação seria “ele mexe”. Novamente aí, temos a duplicidade de sentido, porque mexer, no contexto, tanto pode ser “assediar com gracejos de cunho sexual; flertar” como também “menear os quadris; rebolar”. A imagem complementa a ideia de sensualidade, de apelo sexual. Penso que um cristão não fica muito confortável com esse uso “indevido” de intertextualidade...

Passemos adiante... A frase complementa o “Jesus Luz Mash.[...]” dizendo “com ela [...]”. Se o que veio antes era apelo à sensualidade, não menos o final, uma vez que a palavra grifada é um pronome pessoal que deveria substituir um nome que já foi mencionado, porém, quebrando a regra, o nome não foi mencionado em nenhuma parte do texto. Há o pressuposto de que o leitor já sabe de quem se trata. O repertório do leitor deve conter a informação de que Madonna, cantora e símbolo sexual, teve um possível relacionamento amoroso com o modelo da foto e que esse fato foi notícia de jornais e revistas. A menção de um símbolo sexual ligado ao nome do modelo só acentuaria o cunho sexual da mensagem.  

O ponto culminante fica para o final... Ao usar “ela” depois de tantos indícios anteriores para que o leitor soubesse de que “Jesus” o texto faz menção, temos aí uma intertextualidade com uma frase de John Lennon, dita em 1966[3]: “Nós somos mais populares que Jesus”, que depois foi repassada como "Somos mais famosos que Jesus Cristo". A propaganda usa, de fato, a ideia de que Madonna é mais famosa que Jesus, isso porque muitas indicações são dadas para que o leitor saiba quem é Jesus, mas isso não se faz necessário quando se trata da cantora, porque um simples pronome já é suficiente para que todos saibam.

Isso é que eu chamo de jeito perfeito de fazer engolir sapo. O cristão que compra a tal da cueca nem imagina que está ajudando a financiar uma afronta a sua própria fé. Sim, porque, em sã consciência, nenhum cristão assinaria embaixo dessa propaganda, muito menos ajudaria a financiar tais ideias. É ou não é?!

[1] Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Principais_grupos_religiosos
[2] Bílbia – livro de Mateus 5:14, 16; 6:22, 23 e 10:27


terça-feira, 23 de agosto de 2011

By plane

É comum no ser humano imaginar aquilo que ouve. Exatamente por isso rimos quando alguém nos descreve uma situação engraçada; ficamos espantados diante de certas descrições de situações perigosas, enfim, as emoções nos acompanham juntamente com a imaginação enquanto falamos ou ouvimos. Em geral, é assim! Deve ter sido por isso que uma senhorinha, expectadora do Halley duas vezes, se contorcia, tremia e fechava os olhos logo após ouvir as instruções de voo a bordo de uma aeronave. Você pode se perguntar: “como assim?”. Simples! Ela ouviu aquela parte de “[...] em caso de pouso na água, seus assentos são flutuantes”. Quem fica confortável ouvindo isso?! As perguntas que não calam são: “Em que aeroporto o pouso é aquático?” “Eu estou indo para lá?” Logo em seguida, a imagem cola na mente... Disso para o desespero é um passo. 

Pensando em todos os expectadores do Halley duas vezes e naqueles que nem viram ainda, mas que querem ver um dia, eu tenho uma sugestão para as companhias aéreas: mudem o texto para “Ladies and gentlemen – incluindo o texto em inglês [...] como não iremos pousar na água, vocês não precisarão utilizar seus assentos que, por acaso, são flutuantes... e blá, blá, blá”.

Também aproveitarei para sugerir à TAM que peça o número do telefone de quem irá nos buscar no aeroporto explicando que, no caso de faltar sanduíche a bordo, eles ligarão avisando para prepararem um café, almoço ou jantar reforçado para nos esperar... Que outro motivo eles teriam para nos pedir um telefone de emergência?!

Por ora... Continuem todos tendo uma boa viagem!!!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Uma questão de interpretação...


Professor: O que devo fazer para repartir 11 batatas por 7 pessoas?
Aluno: Purê de batata, senhor professor!

Professor: Joaquim, diga o presente do indicativo do verbo caminhar.
Aluno: Eu caminho... tu caminhas... ele caminha...
Professor: Mais depressa!
Aluno: Nós corremos, vós correis, eles correm!

Professor: "Chovia" que tempo é?
Aluno: É tempo feio, horroroso, senhor professor.

Professor: Quantos corações nós temos?
Aluno: Dois, senhor professor.
Professor: Dois?!
Aluno: Sim, o meu e o seu!

Dois alunos, muito amigos, chegam tarde à escola e justificam-se:
- O 1º Aluno diz: Acordei tarde, senhor professor!
Sonhei que fui à Polinésia e a viagem demorou muito.
- O 2º Aluno diz: E eu fui esperá-lo no aeroporto!

Professor: Pode dizer o nome de cinco coisas que contenham leite?
Aluno: Sim, senhor professor. Um queijo e quatro vacas.

Aluno de Direito fazendo um exame oral. A pergunta: O que é uma fraude?
Responde o aluno: É o que o Sr. Professor está fazendo.
O Professor (muito indignado): Ora essa, explique-se...
Diz o aluno: Segundo o Código Penal comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar!

Professora: Maria, aponte no mapa onde fica a América do Norte.
Maria: Aqui está.
Professora: Correto. Agora, turma, quem descobriu a América?
Turma: A Maria.

Professora: Bruno, que nome se dá a uma pessoa que continua a falar, mesmo quando os outros não estão interessados?
Bruno: Professora.
(Péssima resposta!)

Professora: Joãozinho, me diga sinceramente: você ora antes de cada refeição?
Joãozinho: Não professora; não preciso... A minha mãe é uma excelente cozinheira.

Professora: Artur, tua redação "O Meu Cão" é exatamente igual a do seu irmão. Você copiou?
Artur: Não, professora. O cão é que é o mesmo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Quem diz o que quer...

Li o texto de um [1]escritor que expressava sua indignação pela falta de compreensão de seus leitores quanto a suas afirmações. Dizia: “Como explicar que não perdi a fé, que não apostatei, que não estou na ladeira do inferno e que não sou um Belzebu? Diante de juízos subjetivos, melhor calar. [...] Como justificar-me diante da presunção de que não há outro caminho para a espiritualidade que não seja o pacotão doutrinário, que os evangélicos se consideram legítimos guardiões?”   

Na primeira frase, a pergunta revela também uma afirmação, porque o leitor entende que houve, em algum momento anterior ao texto, uma afirmação que conduziu à conclusão de que essa pessoa perdeu a fé, se não com as mesmas palavras expressas por ele, com outras que o levou a essa conclusão. Até aí, nenhum problema, afinal concluir que alguém perdeu a fé é uma possibilidade quando aquilo que a pessoa diz não condiz com o que é esperado por aquele que analisa o [2]texto. O leitor vai interpretar o que lê a partir do seu repertório, é uma das questões da “lei natural da leitura”.

Logo em seguida, o autor expressa insatisfação pela interpretação que tem sido dada aos seus textos e, por isso, afirma optar por se calar. Mas, essa afirmação não é tomada ao pé da letra uma vez que o texto continua, e continua mantendo a temática inicial. Na verdade, uma possibilidade de leitura dessa frase seria: “se eu não conseguir dizer o que quero, já vou me justificando que não disse nada”.

A outra pergunta que segue é bem interessante, porque o escritor faz exatamente o que acabou de criticar: com uma pergunta, critica severamente aqueles que não concordam com suas afirmações. Ou seja, continuando nesse bate e rebate, acabamos em textos sem saída - o leitor que não concorda com o escritor que, por sua vez, não concorda que o leitor não concorde com ele.

[3]Mario de Andrade disse: “Escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente grita. Penso depois, não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”. Gosto dessa afirmação do Mario, porque, ao abrir a possibilidade de corrigir e justificar, ele deixa claro que o outro também pode ter alguma razão. Eu gosto de pensar que somos livres para concordar e discordar sem precisar entrar em guerra...


[1] O nome do autor não é mencionado porque este blog se destina a procurar possibilidades de leitura, o que mais nos interessa é o texto; só mencionando o escritor se for como recomendação de leitura ou para localizar o leitor.
[2] Entenda por texto toda e qualquer expressão comunicativa.
[3] Escritor modernista (1893-1945).

terça-feira, 26 de julho de 2011

Dos sentidos

1.  O cão mordeu o garoto.

2.  O garoto mordeu o cão.

São as mesmas palavras, porém, em diferentes construções, mudam completamente o sentido. Na primeira, entendemos que algo normal aconteceu; na segunda, algo muito estranho. Nisso reside o poder da palavra: nós construímos seu sentido. Eis um bom motivo para ter cuidado no uso que é feito da palavra. Por ela se produz vida ou morte; alegria ou tristeza; compreensão ou confusão; esperança ou desânimo; louvor ou maldição... 

Antes de repetirmos o que ouvimos ou lemos, precisamos responder duas questões: Que uso quero fazer disso? Minha repetição representa concordância ou confronto? Só os tolos reproduzem palavras sem refletir.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Poética de uma palavra

Frase de um filme: “Nada que alguém diz antes de um ‘mas’ tem valor”. Para entender toda a carga de sentido dessa frase, é preciso saber o que há de especial na palavra “mas” que muda todo o valor do seu contexto. Não é novidade que uma simples palavra pode produzir mais de um sentido, ou, ainda, possuir mais de uma classificação. No contexto da frase, o “mas” é tomado como conjunção adversativa, o que significa dizer que “introduz o segmento que denota basicamente uma oposição ou restrição ao que já foi dito[i]”.

A carga poética da frase está no fato de que, em geral, ao dizermos algo e logo em seguida acrescentarmos um “mas”, introduzimos uma ideia oposta ao que foi dito antes, logo, conforme a frase, poderíamos dispensar a introdução e ir direto ao que realmente deve ser dito. O que faz a poesia não é a limitação do sentido ou do uso, mas a abertura de possibilidades de interpretações e, sem dúvida, a frase apresenta esta característica.




[i] Houaiss online.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A mídia manipula você?

Achei interessante notar, claramente, o discurso tendencioso do UOL. Duas notícias na mesma página. A primeira, lá no cantinho entre muitas outras notícias, com uma foto minúscula, falava da manifestação cristã de 20 mil pessoas – sem essa última informação, hoje (01/06/11), em Brasília. A outra, em destaque, no início da página, assim como tem lugar as notícias das paradas gays:

1. “Grupo organiza ''Marcha Cristã'' em Brasília para protestar contra o projeto que criminaliza a homofobia no Brasil.”

2. Modelo transexual [...] desfila de "engana-mamãe" no Fashion Rio.”

Aspectos discursivos das duas notícias: 

- a primeira refere-se a “grupo” sem especificação alguma, sem nome, logo, sem identidade; a segunda fornece a profissão, a preferência sexual e o nome, que eu optei por não mencionar, o que revela a intenção de propagar de forma a tornar conhecido;

- a primeira utiliza o verbo “organiza”, que não expressa necessariamente uma realização; na segunda, o verbo é “desfila”, que certamente apresenta o glamour da ação praticada;

- as expressões entre aspas são também reveladoras, porque elas indicam expressões que ocupam o lugar da não palavra, aquela que é usada na ausência de um termo que seja próprio; nesse caso, a expressão “Marcha Cristã” é colocada no mesmo plano de “engana-mamãe”;

- para fechar com chave de ouro a preferência do site, na notícia sobre a Marcha Cristã, está escrito que o propósito é “protestar contra o projeto que criminaliza a homofobia no Brasil” – opa, opa, opa... Faltou informação para o redator, porque o objetivo era marchar contra a lei que obriga todo cidadão a ser defensor do homossexualismo como preferência sexual prioritária... Quanta diferença!!!

Se isso acontece em uma página pessoal, é natural, mas, convenhamos, é um site que tem todo tipo de leitor; devia ter mais profissionalismo e respeitar a tão propagada diferença. 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O continente pelo conteúdo

Eu li a seguinte afirmação em um artigo escrito em um blog: “O lado bom da PL 122: a perseguição à Igreja”. Fiquei pensando em que instância seria essa perseguição. Seria no âmbito da Igreja invisível, daqueles que fazem parte dos escolhidos, que recusam se dobrar diante da besta?! Percebi que não era disso que o autor falava, porque em seguida ele utiliza o termo igreja com letra minúscula, o que poderia representar um descuido ou, o que parecia mais provável, se referia à Igreja como organização. Neste caso, quando utiliza o termo “igreja” com letra minúscula estaria particularizando uma célula da organização Igreja.

Seja qual for a intenção do autor, fato é que o texto afirma existir uma perseguição dirigida aos defensores da fé, e complementa com o fato de que só resistirão à “perseguição” aqueles que forem fiéis ao que creem. Sobrou entender o que é perseguição, uma vez que permaneci sem entender muito bem o sentido do texto. Segundo o querido Houaiss, no aspecto sociológico, perseguição significa “intolerância contra algum conjunto, organismo ou grupo social”[1]. Aí é que começa o problema... Até é compreensível a visão de perseguição, porque de fato há uma intolerância. O grande problema é: “que grupo social?”; “que conjunto?”; “que organismo?” – Não existe um ataque sistematizado a uma organização. O ataque é direcionado aos que se manifestam contrários, àqueles que têm fibra para enfrentar com opinião. As ameaças e impropérios são direcionados e atingem legalmente alguns indivíduos isoladamente. 

Quando Jesus disse “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado”[2], na minha recepção, o diabo deve ter pensado assim: “Opa, taí o segredo para acabar com esses cristãos, dividi-los!”. Acontece que os primeiros cristãos estavam no calor da fé e eram unidos demais. Foi preciso trabalhar muito, mas finalmente a estratégia começou a contar com a colaboração dos “cristãos?”. Muitos participantes de igrejas estão aderindo à moda “dessexualizar/sexualizar”, há momentos em que eu até me pergunto se a inclinação sexual é questão de opção ou imposição, porque há os que querem fazer igrejas à moda do cliente. Para pizza e outros comestíveis isso até fica bom, mas, quando se trata de fé, sejamos sensatos, é melhor largar de vez do que tentar remendar o que não aceita remendo.

Fato é que há um desequilíbrio na fórmula de direitos. O problema ainda não está atingindo a organização o suficiente para produzir uma reação em conjunto. Em lugar de gerar fidelidade, está gerando conivência de alguns, apatia de outros, alguns estão ocupados com outros pecados e nem podem jogar pedra nesse telhado de vidro... Enquanto isso, a palavra verdade é tirada do dicionário, as pessoas aderem ao novo sistema, a liberdade entra em colapso e as pessoas morrem, morrem e morrem...  


[1] Houaiss – versão online – 2011.
[2] Mateus 12:25