Pesquisar este blog

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Fatos de leitura


Os programas de incentivo à leitura crescem em número, a venda de livros aumentou, a inclusão no sistema de ensino melhorou, mesmo assim as pesquisas indicam que a capacidade de leitura do brasileiro ainda é bastante deficiente. Pior ainda, 2 em cada 5 com formação superior têm nível insuficiente de leitura – dados do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. 

Saldos tão baixos diante de um investimento que deveria produzir melhores resultados podem ser explicados especialmente pelas deficiências na formação de base somadas ao grau elevado de falta de compromisso com a qualidade. Ninguém desenvolve uma amizade com o texto de uma hora para outra... É importante investir ao longo da vida para ir melhorando cada vez mais. Porém, em um tempo de pessoas imediatistas, a expectativa de sucesso é para ontem. Os melhores resultados são apresentados nos primeiros anos de estudo, a formação superior é de baixa qualidade porque os estudantes querem o diploma, o título, mas o conhecimento é considerado secundário.

“Como ajudar pessoas que têm dificuldade para entender o que lê?” – é uma pergunta que sempre me faço. Eu desconfio que as dicas para entender melhor o texto não fazem sentido quando a pessoa não tem ideia do que fazer com a informação ou quando o leitor é limitado pela falta de experiência. Um exemplo disso é quando a dica para ajudar é: “Encontre o tema central do texto”. E quando tudo no texto parece relevante para o leitor? E se o leitor tem um repertório que o conduz para uma direção diferente do esperado? E se o texto remete a outro texto que revela o tema central considerando que o leitor conhece e capta a intertextualidade, mas ele nem sequer tem ideia do que está implícito?...

A pouca familiaridade com texto pode ser um fator que limita, mas acredito que o pior inimigo da leitura ainda é a falta de interesse em deixar de ser superficial e partir para a investigação séria e trabalhosa. Querer aprender é fundamental para ir além. Se a pessoa não quer aprender, muito pouco resta ao professor. No máximo, tentar acordar o gigante chamado “motivação”... E esperar que o aluno distraído entenda que a parte de colocar o gigante em ação depende exclusivamente dele.

Para quem não gosta de ler, uma dica é não começar com leituras longas. Se você quiser incentivar alguém a ler, comece com doses homeopáticas. Dê textos curtos diariamente. Varie os gêneros textuais. Um pouco de leitura todos os dias vai despertando interesse para ir ampliando, permitindo que o prazer da leitura se instale. Mais do que ler muito, é preciso incentivar a ler bem... A quantidade de textos deve ficar por conta do leitor – que seja bom enquanto dure!