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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Laico: ilusão de ótica!


Se entendermos que laica é toda instituição que é independente em face do clero e da Igreja, e, em sentido mais amplo, de toda confissão religiosa, já temos algumas dificuldades na produção de sentido. Toda instituição não existe por si mesma, ela é o que os seres humanos que a conduzem são – em geral, se considera a instituição de acordo com o comportamento da maioria dos indivíduos que a compõem ou daqueles que se destacam em liderança na organização.

O máximo que se pode conseguir de pessoas é que elas respeitem o posicionamento religioso de outros, jamais que elas sejam destituídas de posicionamento; até a falta de posicionamento é um posicionamento. Um dos significados de religião é devoção... Quer devoção maior do que a do ateu por si mesmo? Ele é o próprio deus a quem cultua! Logo, até o ateu tem sua religião bem constituída.

Como, em nome do bom senso, podemos achar que alguma instituição pode ser laica? Quem organiza? Quem faz as regras? Quem ordena as partes? Simples: PESSOAS! Logo, sempre haverá manifestação do que se crê ou não se crê! Ainda mais no tempo que estamos vivendo, em que toda a cultura está repleta de crenças mascaradas em letras e imagens. Sejamos sensatos: os muros caíram! O laicismo é uma ilusão que tentam sustentar na esperança de não se tornar escravo de um sistema, mas a fuga de um sistema joga, fatalmente, os indivíduos em outro sistema com outras regras – mesmo que seja não ter regra, o que já é uma regra!

Quem quer Estado laico, escolas laicas, sociedade laica, tudo laico deve eliminar as pessoas para conseguir isso. Não esquecendo de eliminar a si mesmo, isso é essencial para o desejo se concretizar! Da minha parte, assumo a necessidade de participar de organizações imperfeitas, com pessoas imperfeitas, respeitando posicionamentos, mas tendo a liberdade de expressar meu não laicismo todas as vezes que me vejo desafiada a ser o que fui chamada para ser: seguidora de Jesus Cristo! Como diriam, há séculos, uns adolescentes que andam por aqui: “Desculpa aí” se temos um mundo cheio de gente esperta que não crê em coisas simples, mas não posso abrir mão de Jesus apenas em favor da inclusão social... Não sou deste mundo!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ideologia severina


Cantava Cazuza que queria uma ideologia[1] para viver, mas na verdade ele já vivia de acordo com uma. “[...] a ideologia é constitutiva do processo social. [...] sendo o homem definido como um animal ideológico”.[2] Uma das primeiras frases que ouvi em sala de aula no curso de especialização foi “seu discurso não é seu”. Somos tão apegados ao que pensamos que nossa reação ao ouvir isso é de choque... Como assim “não é meu”?! Queremos provar que há algo de nosso no que pensamos, mas, fatalmente, teremos que reconhecer a verdade da afirmação. 

Diante do fato de reproduzirmos um repertório que nos foi colocado ao longo de nossas vidas por vários meios, concluímos o que já dizia o pregador “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós.”[3]

A notícia boa é que, embora não sejamos criadores do nosso discurso, podemos escolher o discurso que queremos adotar... Ao menos por enquanto, talvez, quem sabe, com muita força de vontade... Sim! Com muito esforço, alguns de nós ainda podem escolher o discurso que vai tomar para si, mas isso parece ter os dias contados. Já faz algum tempo que venho estudando a presença do espiritualismo[4] na literatura, e o que mais tem chamado a minha atenção é a ideologia por trás dos textos[5]. Também aprendemos com os estudiosos do discurso que todo discurso é intencional, embora muitos só se lembrem disso no que diz respeito aos textos religiosos. Não é sem intenção que figuras do “imaginário” aparecem no texto com um discurso que vai sendo transmitido de forma sutil e, de repente, não mais que de repente, como diria Vinicius de Moraes, do riso tem-se feito o pranto...

Muitos defendem um liberalismo ditatorial que vai contra a ideia original do próprio liberalismo como uma defesa da liberdade individual. O indivíduo está perdendo a liberdade de escolher seu discurso, de forma consciente ou inconsciente. Quando o governo impõe uma lei que você não concorda, mas se vê obrigado a obedecer sob pena de perseguição, você é obrigado a engolir a escolha que foi feita por outros e, embora se fale em democracia, no fim das contas a imposição feita não admite opção contrária. Essa é a perda consciente. Porém, uma mais perigosa, é a perda da liberdade de escolha de forma inconsciente, colocada na mente das pessoas sem que elas, de fato, se deem conta do acontecido, apenas reproduzem o que recebem, porque entrou em suas mentes de uma maneira tão “agradável” e sutil... 

Dr. Donald A. Cowan, presidente emérito da Universidade de Dallas diz: "O que tomará o lugar da lógica, do fato e da análise na era vindoura? A forma central de pensamento para essa nova era será a imaginação... A imaginação será o agente ativo e criativo da cultura, transformando materiais brutos em um estado mais elevado e inteligível." - Anunciado em um fórum em 1988 no Dallas Institute of Humanities and Culture. Esse discurso formou o núcleo de seu livro Unbinding Prometheus: Education for the Coming Age. "A imersão sensorial ajuda os estudantes a assimilarem a realidade através da ilusão", escreveu o professor Chris Dede, da Universidade de Harvard, um líder global no desenvolvimento de programas de tecnologia da educação”. - Berit Kjos - Assim, a imaginação se torna um instrumento de formação de conceitos sem que a possível vítima - aquele que não percebe as associações do texto - entenda no que está se envolvendo.

É impressionante como nossa mente pode ser manipulada sem nos darmos conta de que estamos abrindo mão de escolher e somos preparados para responder com informações que nem sequer escolhemos. O grande embate nessa história ainda é o mais velho de todos, começado lá no Éden: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” – eis aqui a ideologia alternativa, estabelecida na simples pergunta: Você vai se deixar limitar só porque alguém disse que você não pode fazer? Que é isso? Vai fundo que não vai pegar nada...

Para saber se a árvore é boa basta ver o fruto... O problema é que tem muita árvore que o fruto parece bom e bonito para comer, mas por dentro está podre. Escolher uma ideologia está se tornando cada vez mais difícil, porque o pacote já está vindo pronto. Lutar por uma sociedade mais justa e melhor?! Vai se preparando para a guerra, porque o mar não está para peixe... 



[1] Sistema de ideias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos – dicionário Houaiss online.
[2] Émile Durkheim - acadêmico, sociólogo, antropólogo e filósofo francês, considerado um dos pais da Sociologia moderna, reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social.
[3] Eclesiastes 1.9, 10
[4] Qualquer doutrina ocultista ou religiosa que acredita na existência de espíritos imateriais – dicionário Houaiss online.
[5] O texto não apenas envolve a escrita, também outras unidades que constituem comunicação.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Opiniando


Não assisti ao programa com o Silas Malafaia ontem (04/02/13), mas até já sei a receita: a opinião do Silas - que ele já expôs em diversas ocasiões e que nem é novidade - e a mídia querendo criar uma polêmica para aumentar a audiência e, quem sabe de lambuja, conseguir ridicularizar um líder evangélico, colocar todos os evangélicos em um pacote e atacar a Igreja descaradamente. A julgar pelos comentários, parece que só a primeira parte funcionou. 

Esperar que os líderes dos movimentos homossexuais e seus seguidores entendam a postura sensata de discordar da prática do sexo entre iguais é ingenuidade. No máximo, temos dois grupos: 1. Os homossexuais que fazem sua escolha e vão viver sua vida sem preocupação com critérios de igrejas ou o que a Bíblia diz, porque estão mais interessados em viver suas vidas do que em aprovação de terceiros - temos que respeitar seus direitos; 2. Os que não estão preocupados em serem aceitos por Deus, muito menos pelas pessoas, mas trabalham para destruir a identidade da Igreja por discordar da opção que fizeram. Estes não brigam por aprovação - e, sim, por aceitação incondicional, usam palavrões para se referir aos líderes que se posicionam, aplicam erradamente a Bíblia como se fosse seu caderninho de frases para usar em determinadas ocasiões, odeiam os que não trabalham por sua causa...

Por outro lado, as igrejas evangélicas pouco sabem como receber aqueles que se chegam a elas na condição de homossexual e oferecem um pacote que dificilmente consegue se ajustar às necessidades espirituais da pessoa, e o resultado é uma guerra com a carne que nem sempre produz vitória para nenhum dos lados. Somado a isso, muitos evangélicos tomam para si a tarefa de salvar o mundo, esquecem que esse papel é de Jesus, com a ação do Espírito Santo. O povo de Deus ora e prega a Palavra, o Espírito Santo convence e Jesus salva.

Há um trecho no livro "As crônicas de Nárnia" que eu penso que ilustra a reação à pregação da Palavra, quando os anões não veem a beleza daquilo que Aslam e o seu grupo estão vendo e mostrando. Um dos anões diz: “Tentando fazer a gente acreditar que ninguém aqui está trancado e que não está escuro, e sabe-se lá o que mais..." (p. 715) - E Aslam fala para o grupo: "Eles não nos deixarão ajudá-los. Preferem a astúcia à crença. Embora a prisão deles esteja unicamente em suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem ludibriados de novo que não conseguem livrar-se.” (p. 717).

Quem dera pudéssemos viver em um mundo em que fosse possível ouvir uma opinião contrária sem a necessidade de desrespeitar com xingamentos. Hoje, em relação à população nacional, são poucos os que conseguem isso... Ainda assim, eu acredito na educação, que não salva, mas ajuda a viver em sociedade e permite a liberdade de opinião.