Pesquisar este blog

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Fatos de leitura


Os programas de incentivo à leitura crescem em número, a venda de livros aumentou, a inclusão no sistema de ensino melhorou, mesmo assim as pesquisas indicam que a capacidade de leitura do brasileiro ainda é bastante deficiente. Pior ainda, 2 em cada 5 com formação superior têm nível insuficiente de leitura – dados do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. 

Saldos tão baixos diante de um investimento que deveria produzir melhores resultados podem ser explicados especialmente pelas deficiências na formação de base somadas ao grau elevado de falta de compromisso com a qualidade. Ninguém desenvolve uma amizade com o texto de uma hora para outra... É importante investir ao longo da vida para ir melhorando cada vez mais. Porém, em um tempo de pessoas imediatistas, a expectativa de sucesso é para ontem. Os melhores resultados são apresentados nos primeiros anos de estudo, a formação superior é de baixa qualidade porque os estudantes querem o diploma, o título, mas o conhecimento é considerado secundário.

“Como ajudar pessoas que têm dificuldade para entender o que lê?” – é uma pergunta que sempre me faço. Eu desconfio que as dicas para entender melhor o texto não fazem sentido quando a pessoa não tem ideia do que fazer com a informação ou quando o leitor é limitado pela falta de experiência. Um exemplo disso é quando a dica para ajudar é: “Encontre o tema central do texto”. E quando tudo no texto parece relevante para o leitor? E se o leitor tem um repertório que o conduz para uma direção diferente do esperado? E se o texto remete a outro texto que revela o tema central considerando que o leitor conhece e capta a intertextualidade, mas ele nem sequer tem ideia do que está implícito?...

A pouca familiaridade com texto pode ser um fator que limita, mas acredito que o pior inimigo da leitura ainda é a falta de interesse em deixar de ser superficial e partir para a investigação séria e trabalhosa. Querer aprender é fundamental para ir além. Se a pessoa não quer aprender, muito pouco resta ao professor. No máximo, tentar acordar o gigante chamado “motivação”... E esperar que o aluno distraído entenda que a parte de colocar o gigante em ação depende exclusivamente dele.

Para quem não gosta de ler, uma dica é não começar com leituras longas. Se você quiser incentivar alguém a ler, comece com doses homeopáticas. Dê textos curtos diariamente. Varie os gêneros textuais. Um pouco de leitura todos os dias vai despertando interesse para ir ampliando, permitindo que o prazer da leitura se instale. Mais do que ler muito, é preciso incentivar a ler bem... A quantidade de textos deve ficar por conta do leitor – que seja bom enquanto dure!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Bene... o quê?!


Interessante como a linguagem sempre nos surpreende... Volta e meia recebemos uma ligação de alguém (telemarketing) oferecendo benefícios imperdíveis. A única questão que me intriga é a subjetividade da palavra benefício.

Segundo meu querido Houaiss[1], a dita palavra significa “ato ou efeito de fazer o bem, de prestar um serviço a outrem; auxílio, favor; graça, privilégio, honra ou provento concedidos a alguém; proveito, vantagem, direito; saldo resultante da diferença entre o custo e o preço de venda; lucro, ganho, interesse; resultado de benfeitoria, melhoramento, ampliação etc. resultado proveitoso; vantagem etc.” Até aqui, ótimo! Mas eu vivi há pouco uma situação em que a palavra foi usada e que eu fiquei com a forte impressão de que aqueles que a usaram não têm conhecimento dessa definição. Vamos ao exemplo prático...

Verificando meu extrato bancário, percebi que o banco em que tenho conta debitou R$ 7,99 em meu saldo já sofrido, com a explicação de ser anuidade de cartão de crédito. Seria até justo se eu tivesse o tal cartão e quisesse o tal crédito, mas não era o caso. Depois de inúmeras tentativas de entrar naquela simpática porta que trava toda vez que aparece alguém com cara de meliante[2] ameaçando invadir o recinto, me contentei em ser atendida do lado de fora por uma também simpática funcionária. Questionei a cobrança indevida de um “benefício” que não solicitei e ela me deu a singela explicação: “Esse benefício foi concedido por credibilidade pelo tempo de conta em nosso banco”. É claro que eu fiquei com cara de “Ué”. Ela me passou o número de telefone em que eu deveria gastar preciosos minutos solicitando que, por favor, não me beneficiasse mais – isso se o telefone não tivesse um detector de meliantes também. Atendida fui, tendo que responder mais de uma vez à doce pergunta: “Confirma que não quer o ‘benefício’ do crédito?” Confirmadum est! Parte II: Perguntei se iriam devolver meus preciosos R$ 7,99 solapados da minha conta. A resposta foi que eu deveria ligar daqui a três dias para solicitar o estorno.

Minha grande dúvida agora é: Como eu faço para processar o Houaiss por dar significados errados para as palavras???


[1] Dicionário de Língua Portuguesa online.
[2] Aquele que não trabalha; velhaco, indivíduo de maus costumes.

sábado, 16 de junho de 2012

Onomatopeicamente falando...


É interessante notar como os sons são interpretados em diferentes culturas, embora, na realidade, todos ouçam a mesma expressão sonora. O cachorro late igual em qualquer país, no entanto, ao reproduzir o som do latido, as formas variam bastante... Estranho isso! - wou-ou-ouuuu (francês); vau-ou-oouu (russo); uuuuu (italiano); au au (português); woof, woof; ruff, ruff; arf, arf (inglês) etc.[1] Outro exemplo interessante é o espirro. Na França é atchoum, na Alemanha hatschi e nos Estados Unidos atchoo, achoo ou achew e no Brasil é atchim. As onomatopeias são formas naturais de representações do som, que não estão submissas às regras dos sistemas fonológicos da língua.[2] Se as formas de representar esses sons variam bastante, as respostas não deixam por menos... Vejam algumas respostas que os espirros suscitam em algumas línguas:

Em português: Atchim - Saúde!
Em inglês: Atchoo! - Deus te abençoe!
Em indonésio: Hatchi - Bendito seja Deus!
Em dinamarquês: Atju - Poderá beneficiar-te!
Em letão: Apci - Isso é para sua saúde!
Em romeno: Hapciu - Boa sorte![3]

Se aquilo que ouvimos de maneira igual já causa interpretações diferentes, como é, então, o que ouvimos de forma diferente nos tons de voz, nas expressões faciais, no uso de palavras parecidas, mas não iguais, nas traduções etc. Quanto do que ouvimos realmente é o que achamos que é? Se não é, o que podemos fazer para minimizar a distância entre o que é dito e o que é entendido? Responder perguntas assim pode nos ajudar a estabelecer uma linha de comunicação menos turbulenta e mais eficaz, tanto dentro de uma cultura como no relacionamento transcultural.

[2] Mário Viaro, da Universidade de São Paulo (USP).
[3] Mundo estranho – “Última modificação: 27 de Dezembro de 2008”.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ateu com raiva de Deus


Tem coisa mais estranha do que um ateu reclamando de Deus?! Seria o mesmo que minhas meias desaparecerem e eu propagar minha raiva do saci pererê porque minhas meias sumiram... É, pode parecer estranho, mas eu não acredito na existência de saci, logo, se minhas meias sumiram, provavelmente eu fui descuidada e joguei em qualquer lugar... Ou a Pucca[1] pegou, já que ela adora pegar nossas meias e sair brigando com elas pela casa. 

Eu tenho visto dois tipos de ateus: os que se acham inteligentes demais para acreditarem em uma coisa tão básica como Deus; e os que estão com raiva de Deus: qualquer menção a esse Ser os deixa furiosos. Pode existir outro tipo de ateu, mas eu ainda não conheci. Lembro-me de ter conversado com um há muito tempo que parecia bem à vontade com o fato de não crer e respeitava outros pensamentos, mas não lembro o suficiente para dizer se ocuparia um terceiro tipo.

Discutir religião é algo sem sentido, porque, acreditando ou não em Deus, acho que todos devem concordar que a liberdade de escolha e de pensar deve ser garantida a cada ser humano, ou teríamos que nos exterminar mutuamente por impossibilidade de existência. Logo, se somos livres para escolher, não podemos discutir escolhas, mas podemos discutir ideias. Isso é legal. É muito bom conversar com gente que tem o pensamento bem organizado e que tem educação para manter uma conversa mentalmente saudável.

Sobre os ateus que têm raiva de Deus, podemos notar que, em geral, a raiva é produzida por alguma experiência desagradável em algum momento da vida e que, sem poder lidar com o fato, a pessoa atribui a Deus a culpa. É muito comum pessoas que tiveram relacionamento traumático com o pai atribuírem a Deus as características do próprio pai. A psicanálise apresenta boas explicações para o fato. Ainda assim, é esquisito alguém reclamando ou discutindo sobre as ações de um ser que supostamente não existe. Fica pior quando começa a discussão sobre a Bíblia. Se a pessoa também não crê na Bíblia como palavra de Deus, por que discutir a ‘ficção’? Se não é a Palavra de Deus, logo a pessoa toma como ficção, e não é normal que as pessoas comecem a discutir uma obra totalmente fictícia. Talvez a pessoa precise “travar o seu pacto ficcional”[2] ou admitir que está diante de um gigante invencível: sua fé ferida...




[1] Cachorrinha dos Nunes.
[2] Roland Barthes.

sábado, 5 de maio de 2012

Fala e direi quem és!


A primeira vez que li esta frase fiquei com um misto de quebra de expectativa – vulgo confusão – e a impressão de que a frase trazia mais informação do que a simples percepção de uma primeira leitura. E o texto se revela, levando-nos a seguir suas pistas...
De repente, em uma situação do cotidiano da maioria de nós, se não todos, encontramos pessoas que dizem coisas, na brincadeira, que deixam uma sensação de que há mais do que uma brincadeira. E o que isso tem a ver com a frase?! Vamos seguir o método “Jack”, por partes...

Sabe quando uma pessoa diz uma frase em tom de brincadeira, rindo, mas que só ela acha graça da colocação que fez?! E mais, se você tirar o sorriso da pessoa e a tentativa de fazer graça, você obtém uma informação que poderia ser considerada uma agressão a você?! Junte a isso a informação de que a pessoa que disse a frase tem dificuldade de guardar para si o que pensa, alguém que quer, o tempo inteiro, dizer o que pensa e corrigir o que acha errado, enfim, precisa “impor” o que pensa sobre qualquer assunto. Considerando que dizer algo desagradável para alguém nem sempre é bem visto, o recurso é dizer sem ter que se indispor diretamente com a pessoa. Em caso de reação negativa... Simples: “Foi só uma brincadeira”!

A pessoa que “sofre” a brincadeira pode reagir de diversas formas: não perceber e apenas sentir uma sensação estranha no ar, perceber e entrar na festa da “brincadeira” fazendo um comentário ligeiramente mordaz, perceber e não revidar, perceber e revidar. O grande problema para as pessoas que são cuidadosas ao interpretar as intenções dos outros é o receio de errar na leitura dessas intenções. A Análise do Discurso teoriza que não existe discurso sem intenção – em outras palavras, tudo que falamos está completamente repleto de intenção de comunicar algo, e o texto e seu contexto são importantes para entender qual.

Esse tipo de brincadeira deixa a mesma sensação da frase da imagem: tem algo errado. O que está errado é alguém tentar dizer algo desagradável que pensa sobre nós em um tom que não convence... Se alguém disser algo em tom de brincadeira que parece estranho, que tirando o riso dela e tom de brincadeira não convence e soa como uma ofensa para você, não vacile, deixe que a outra pessoa saiba que ofensa nem em brincadeira tem graça. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O cristão por opção X o cristão por neurose: interpretando a fé

Para falar de fé é preciso definir de que fé estamos falando, considerando que para muitos, inclusive em alguns dicionários, se resume em confiança absoluta. E assim é. Mas o que quero analisar são algumas afirmações de pessoas que colocam a Bíblia como sua base e sua regra de fé. Quando alguém escolhe crer e utilizar a Bíblia como sua regra de conduta, dura coisa o faz. Sim, porque ou crê em tudo que está ali escrito ou assume a postura contrária. Isso me faz lembrar a discussão de alguns gramáticos quanto à existência da “certeza absoluta”, uma vez que certeza é exatamente a ausência de dúvida... Se existe a dúvida, logo, não é certeza. E se é certeza, logo, só pode ser absoluta, não existindo necessidade de repetir o que a palavra certeza já diz. 

A Bíblia define fé como “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem”[1] e mais adiante nesse mesmo texto diz “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê”. Um livro - ou coleção de livros – que faz uma afirmação dessas já deixou claro que para aceitar suas ideias é preciso disposição pessoal. Ou se aceita tudo que ela propõe ou nega e parte para a descrença.

Freud assumiu sua visão de descrença, mesmo tendo nascido judeu, e postulou sobre sua visão de religião. Para ele, “[...] a religião seria o sintoma neurótico da humanidade” e que “[...] a religião busca impor um modelo de felicidade uniforme, único e restritivo de adaptação à realidade, cujas características são a desvalorização da vida terrena, a substituição do mundo real por um mundo delirante e a inibição intelectual, sem atender, portanto, à infinita variedade das condições psíquicas”[2] – assim ele percebe a vida religiosa. Um amigo de Freud – pastor evangélico[3] – enviou uma carta a Freud dizendo que “preferia muito mais ler um descrente sensato como Freud do que mil crentes sem valor”; também escreveu um artigo sobre as afirmações de Freud dizendo, entre outras coisas, que “[...] o conhecimento não garantia o progresso. A ciência seca e antisséptica, também jamais poderia ocupar o lugar da religião, já que não conseguia inspirar valores morais [...]” e que “[...] a verdadeira fé era uma proteção contra a neurose e que a posição freudiana era ela própria uma ilusão, pois passava ao largo da atitude autêntica do cristão”. Romain Rolland, escritor francês, comentou sobre esse ensaio de Freud que lamentava que Freud não tivesse levado em consideração o fato simples e direto da sensação do eterno.

Como vemos, são duas posições opostas quando se trata de fé em Deus e na Bíblia como revelação de sua vontade: crer ou não crer. Embora Freud não tenha uma posição de fé, ele diz algo que explica algumas posturas religiosas, e quem dá a dica para entendermos é o amigo dele quando diz que o seguidor sincero, que tem atitude autêntica de cristão, não foi considerado. Então, de fato é possível que a pessoa receba a religião em sua vida como uma manifestação de neurose. O cristão por opção analisa o conteúdo bíblico, entende como verdade e faz a opção de colocar sua vida naquele padrão. O cristão por neurose analisa, até entende que possa ser verdade, mas não consegue abrir mão das suas inclinações, então, faz opção pela construção de um muro, um meio termo, uma opção em que ele possa encaixar sua pulsão[4] e manter a religião como seu refúgio neurótico.

O que uma pessoa faz quando para alcançar algo que quer muito precisa renunciar a outra coisa que também quer muito? Uma escolha, correto?! Um exemplo disso foi o caso de uma moça que estava concorrendo no “America's Next Top Model” e seria obrigada a cortar o cabelo, mas ela não aceitou. Era a regra, aceita ou não aceita. Ela fez a escolha. O que é difícil entender – e isso “Freud explica” – é porque algumas pessoas não conseguem fazer a escolha quando se trata de religião. Elas não aceitam a regra e abrem uma igreja pessoal dizendo que naquela igreja pode fazer aquilo que a Bíblia condena e, misteriosamente, somem com os textos bíblicos que condenam suas práticas, quando seria bem mais simples descrer somente.

Aí entra uma outra questão: o inferno. John MacArthur diz que o inferno é tão horrível, tão difícil de entender que algumas pessoas preferem não lidar com ele. As pessoas simplesmente excluem da sua consciência e de seus pensamentos e produzem uma solução melhor, algo que faça sentir-se bem; algo que, do ponto de vista humano, seja mais agradável e justo ao invés de entender o que seja ofender um Deus infinitamente santo e ter que pagar com o castigo eterno. E ele acrescenta que uma forma de sair disso é se tornar totalmente indiferente e apagar da memória. Mas algumas pessoas não conseguem se livrar disso, especialmente aquelas que nasceram “em berço evangélico”, como foi o caso de uma pessoa que ajudou a fundar uma igreja para poder viver sua inclinação sexual. Quando a pessoa leva o inferno a sério, segundo John Piper, ou ela enlouquece ou se volta para o evangelho. Mas em nosso tempo, estamos vendo pessoas que querem conciliar a consciência criando uma ilusão de religiosidade.

O fato é que tanto a Bíblia como boa parte dos segmentos evangélicos são inclusivos quanto a pessoas, mas são exclusivos quanto a comportamento. O que significa dizer que qualquer pessoa pode se tornar parte, mas não é admitido qualquer comportamento. O fato é que o comportamento sexual é prescrito biblicamente dentro de um contexto determinado. O sexo deve ser desfrutado dentro de uma determinada visão. Fora isso, é excluído. Incapaz de aceitar isso, uma pessoa pode argumentar que sua inclinação interior é contrária a essa prescrição e que forçar seria hipocrisia. Mas a proposta bíblica é realmente de autocontrole. Toda pessoa que faz parte de qualquer grupo religioso que queira seguir a Bíblia como manual de conduta terá de controlar a si mesma, e os impulsos em um ser humano podem ser os mais diversos e causadores de estragos. A questão é que aquele que aceita crer entende que está abrindo mão de algo passageiro para desfrutar de algo eterno, porque esse é o sentido da fé, sentido de eternidade. Sim, porque por maior que seja qualquer paixão física, um dia terá seu declínio. É como a pessoa que puxa a pele daqui e dali e se esfola para ficar bela e lisa, porém mais cedo ou mais tarde irá envelhecer e morrer, e, morrendo, o corpo apodrece e fica só osso... Fato!

É preciso que as pessoas desfrutem, de forma confortável, o preço de suas escolhas enquanto estão neste mundo. Porque forjar uma opção inexistente, isso sim é hipocrisia e, em lugar de produzir solução, conduz pessoas ao engano... E é aí que reside o problema: “É inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem. Seria melhor que ela fosse lançada no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço, do que levar um desses pequeninos a pecar.”[5]


[1] Hebreus 11.1
[2] FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Porto Alegre, RS : L&PM, 2011.
[3] Oskar Pfister.
[4] Processo dinâmico, força ou pressão, que faz o organismo tender para uma meta, a qual suprime o estado de tensão ou excitação corporal que é a fonte do processo – Houaiss on line.
[5] Lucas 17.1, 2

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O encoberto a descobrir...


Paranomásia ou paronomásia é uma figura estilística que consiste no emprego de palavras com som semelhante numa mesma frase, também conhecido como trocadilho. Os trocadilhos são recursos retóricos bastante usados em discursos humorísticos e publicitários. Para fazer trocadilhos é importante conhecer o significado das palavras para que eles façam sentido e cumpram sua função retórica.

É importante lembrar que os sentidos das palavras se fazem pela vivência; uma palavra que, em um determinado momento, tem um sentido pode adquirir novos sentidos se fizermos novas associações. Um bom exemplo disso é a palavra medíocre, que no sentido original quer dizer “de qualidade média”, porém, no sentido pejorativo, a palavra ganhou o sentido de coisa de qualidade ruim.

Para fazer bons trocadilhos também é importante conhecer o idioma, por isso a língua nativa nos permite maiores realizações. Em outros idiomas, no entanto, precisamos de alguma vivência para arriscar alguns trocadilhos...
 
Alguns exemplos interessantes de trocadilhos:

"Quem casa, quer casa" (provérbio).
"Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre António Vieira).
Traduttore, traditore ("tradutor, traidor" em italiano).
Are you here for vacation or vocation? (Você está aqui em férias ou a trabalho? - inglês)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Questões de leitura

Um dos maiores desafios para o leitor brasileiro - se não for para qualquer leitor - é aprender a interpretar textos, levando em consideração o aspecto discursivo – ou seja, o que está escondido nas entrelinhas... Ou revelado descaradamente nas linhas...

Um colunista resolveu mostrar sua opinião a respeito de palavras violentas sobre um assunto que deveria sensibilizar as pessoas, mas a sua forma de expressar deixa mais dúvida do que simpatia quanto aos seus argumentos. A menos que o leitor já esteja com opinião formada a favor do escritor.

Vejamos o título: O câncer de Lula me envergonhou[1] – Como assim? Desde quando uma doença de uma pessoa envergonha outra?! Ah! Sim. É apenas uma frase sensacionalista para despertar a curiosidade e o desejo de ler o que ele escreveu. O bom leitor já vai perceber que não haverá tanta indignação assim, já que o mais importante não é o assunto tratado, e sim a leitura.

A indignação: Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo. – Aqui o leitor até se solidariza, afinal, ninguém merece ser tão enxovalhado só porque está doente. “Vergonha” e “enjôo” não seriam exatamente os sentimentos próprios que alguém descreveria diante de tal fato, mas que seja. A questão intrigante surge no trecho seguinte.

O exemplo das ações e palavras ultrajantes: Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria? – Não fosse o assunto tão triste, seria de chorar de rir. Que ironia é essa? Lula se tratar no SUS é uma tolice sem tamanho, que seria resultado de muito ódio de quem deseja isso? Tolice, por quê? Ele é melhor que todos os que se tratam no SUS? Foi por ódio da população menos favorecida que ele manteve o SUS?

Aspecto político: Lula teve muitos problemas --e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social. – Qual era o assunto mesmo? Ah, tá... Ele estava falando de comportamento humano diante de uma tragédia. Por pouco, pensamos que era uma avaliação política...

O assunto retorna?: No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia. – “Transparência” e “altivez”... Ele fala da doença ou do comportamento político? Quanto ao “todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia”, já deu para perceber que “todos” é um número muito grande para um país que revela desigualdade em muitas áreas, especialmente no sentido de valor do ser humano... Precisamos mais do que ideias para mudar isso!

Pegando pesado: Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância. – Esse final é apoteótico. De fato, há muito lixo na internet, escrever opiniões agressivas é só uma ponta do iceberg. Mas quem se importa quando o ofendido não é da “elite”?!

Propaganda do propósito: Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência. – Seria esse o objetivo desse artigo? Parece que não, porque um bom número de leitores se revoltou com os comentários, que em lugar de educar, descarregou, educadamente, a raiva pelo mau comportamento desses que precisam de educação.

Crédito: Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania. – Essa informação é uma faca de dois gumes: por um lado, coloca o autor como alguém importante – afinal ele é o cara que está em Harvard, ensinando cidadania, sabe do que fala; por outro lado, deixa o leitor pensando por que ele está lá quando o Brasil está tão “desconfigurado” no exercício da cidadania.

Como disse o sábio, elas justificam ou condenam...


[1] Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/999070-o-cancer-de-lula-me-envergonhou.shtml.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Vestir a camisa

“Vestir a camisa” é uma expressão muito comum, especialmente se referindo à relação do empregado para com a empresa em que trabalha. “Vestir a camisa” quer dizer “comprometer-se com”.  E para que isso aconteça é preciso que o empregado se sinta como parte de um time. Se isso não acontece, a situação já tende a se complicar. É preciso acreditar que faz parte do grupo e compreender o objetivo de tanto esforço. Um fator complicador é que, algumas vezes, a empresa tem um perfil que não se encaixa no empregado. Para manter o time no foco é preciso que a empresa selecione pessoas com o perfil que seja adaptável ao seu plano de trabalho. 

Um exemplo que pode ilustrar a ideia do perfil empresa/funcionário é o trabalho das equipes de voo das companhias aéreas. Até algum tempo atrás era comum a formalidade nos comunicados feitos durante a viagem. A Webjet, ao contrário disso, entrou no mercado com uma proposta de descontração, fazendo comunicados ou dando instruções com uma mescla de humor, porém, não são todos os funcionários que conseguem encontrar o tom que a empresa se propõe a assumir. Outros, porém, conseguem se superar, como foi o caso de um comandante que saiu com estas pérolas em um voo de São Paulo para o Rio de Janeiro:

“Previsão de pequena turbulência de vento vindo da direita para esquerda, suficiente apenas para embalar seu soninho”;

O Rio de Janeiro está com o céu ligeiramente nublado, com nuvens escuras, também conhecidas como poluição”;

Falando sobre alguns pontos turísticos do Rio de Janeiro: “a Pedra da Gávea é o lugar onde pessoas pulam de asa delta, parapente e, de vez em quando, alguns malucos pulam sem nada”;


Sobre a igreja da Penha: "O carioca 'e(x)perto' faz uma promessa e, se alcançar o pedido, manda a sogra subir de joelhos";

“A temperatura de fora da aeronave está em 50 graus Celcius negativos. Aconselho a que permaneçam dentro do avião”.

O discurso descontraído em um ambiente que gera tensões para alguns é uma estratégia interessante, mas nem todos os funcionários responderão à altura do esperado, por questões de personalidade ou outras. Aqueles que têm uma veia humorística acentuada, no entanto, se sentirão bem à vontade usando seu verdadeiro potencial, o que é bem mais interessante do que se meter em uma “camisa de força”...