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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ateu com raiva de Deus


Tem coisa mais estranha do que um ateu reclamando de Deus?! Seria o mesmo que minhas meias desaparecerem e eu propagar minha raiva do saci pererê porque minhas meias sumiram... É, pode parecer estranho, mas eu não acredito na existência de saci, logo, se minhas meias sumiram, provavelmente eu fui descuidada e joguei em qualquer lugar... Ou a Pucca[1] pegou, já que ela adora pegar nossas meias e sair brigando com elas pela casa. 

Eu tenho visto dois tipos de ateus: os que se acham inteligentes demais para acreditarem em uma coisa tão básica como Deus; e os que estão com raiva de Deus: qualquer menção a esse Ser os deixa furiosos. Pode existir outro tipo de ateu, mas eu ainda não conheci. Lembro-me de ter conversado com um há muito tempo que parecia bem à vontade com o fato de não crer e respeitava outros pensamentos, mas não lembro o suficiente para dizer se ocuparia um terceiro tipo.

Discutir religião é algo sem sentido, porque, acreditando ou não em Deus, acho que todos devem concordar que a liberdade de escolha e de pensar deve ser garantida a cada ser humano, ou teríamos que nos exterminar mutuamente por impossibilidade de existência. Logo, se somos livres para escolher, não podemos discutir escolhas, mas podemos discutir ideias. Isso é legal. É muito bom conversar com gente que tem o pensamento bem organizado e que tem educação para manter uma conversa mentalmente saudável.

Sobre os ateus que têm raiva de Deus, podemos notar que, em geral, a raiva é produzida por alguma experiência desagradável em algum momento da vida e que, sem poder lidar com o fato, a pessoa atribui a Deus a culpa. É muito comum pessoas que tiveram relacionamento traumático com o pai atribuírem a Deus as características do próprio pai. A psicanálise apresenta boas explicações para o fato. Ainda assim, é esquisito alguém reclamando ou discutindo sobre as ações de um ser que supostamente não existe. Fica pior quando começa a discussão sobre a Bíblia. Se a pessoa também não crê na Bíblia como palavra de Deus, por que discutir a ‘ficção’? Se não é a Palavra de Deus, logo a pessoa toma como ficção, e não é normal que as pessoas comecem a discutir uma obra totalmente fictícia. Talvez a pessoa precise “travar o seu pacto ficcional”[2] ou admitir que está diante de um gigante invencível: sua fé ferida...




[1] Cachorrinha dos Nunes.
[2] Roland Barthes.

sábado, 5 de maio de 2012

Fala e direi quem és!


A primeira vez que li esta frase fiquei com um misto de quebra de expectativa – vulgo confusão – e a impressão de que a frase trazia mais informação do que a simples percepção de uma primeira leitura. E o texto se revela, levando-nos a seguir suas pistas...
De repente, em uma situação do cotidiano da maioria de nós, se não todos, encontramos pessoas que dizem coisas, na brincadeira, que deixam uma sensação de que há mais do que uma brincadeira. E o que isso tem a ver com a frase?! Vamos seguir o método “Jack”, por partes...

Sabe quando uma pessoa diz uma frase em tom de brincadeira, rindo, mas que só ela acha graça da colocação que fez?! E mais, se você tirar o sorriso da pessoa e a tentativa de fazer graça, você obtém uma informação que poderia ser considerada uma agressão a você?! Junte a isso a informação de que a pessoa que disse a frase tem dificuldade de guardar para si o que pensa, alguém que quer, o tempo inteiro, dizer o que pensa e corrigir o que acha errado, enfim, precisa “impor” o que pensa sobre qualquer assunto. Considerando que dizer algo desagradável para alguém nem sempre é bem visto, o recurso é dizer sem ter que se indispor diretamente com a pessoa. Em caso de reação negativa... Simples: “Foi só uma brincadeira”!

A pessoa que “sofre” a brincadeira pode reagir de diversas formas: não perceber e apenas sentir uma sensação estranha no ar, perceber e entrar na festa da “brincadeira” fazendo um comentário ligeiramente mordaz, perceber e não revidar, perceber e revidar. O grande problema para as pessoas que são cuidadosas ao interpretar as intenções dos outros é o receio de errar na leitura dessas intenções. A Análise do Discurso teoriza que não existe discurso sem intenção – em outras palavras, tudo que falamos está completamente repleto de intenção de comunicar algo, e o texto e seu contexto são importantes para entender qual.

Esse tipo de brincadeira deixa a mesma sensação da frase da imagem: tem algo errado. O que está errado é alguém tentar dizer algo desagradável que pensa sobre nós em um tom que não convence... Se alguém disser algo em tom de brincadeira que parece estranho, que tirando o riso dela e tom de brincadeira não convence e soa como uma ofensa para você, não vacile, deixe que a outra pessoa saiba que ofensa nem em brincadeira tem graça.