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sexta-feira, 13 de maio de 2011

O continente pelo conteúdo

Eu li a seguinte afirmação em um artigo escrito em um blog: “O lado bom da PL 122: a perseguição à Igreja”. Fiquei pensando em que instância seria essa perseguição. Seria no âmbito da Igreja invisível, daqueles que fazem parte dos escolhidos, que recusam se dobrar diante da besta?! Percebi que não era disso que o autor falava, porque em seguida ele utiliza o termo igreja com letra minúscula, o que poderia representar um descuido ou, o que parecia mais provável, se referia à Igreja como organização. Neste caso, quando utiliza o termo “igreja” com letra minúscula estaria particularizando uma célula da organização Igreja.

Seja qual for a intenção do autor, fato é que o texto afirma existir uma perseguição dirigida aos defensores da fé, e complementa com o fato de que só resistirão à “perseguição” aqueles que forem fiéis ao que creem. Sobrou entender o que é perseguição, uma vez que permaneci sem entender muito bem o sentido do texto. Segundo o querido Houaiss, no aspecto sociológico, perseguição significa “intolerância contra algum conjunto, organismo ou grupo social”[1]. Aí é que começa o problema... Até é compreensível a visão de perseguição, porque de fato há uma intolerância. O grande problema é: “que grupo social?”; “que conjunto?”; “que organismo?” – Não existe um ataque sistematizado a uma organização. O ataque é direcionado aos que se manifestam contrários, àqueles que têm fibra para enfrentar com opinião. As ameaças e impropérios são direcionados e atingem legalmente alguns indivíduos isoladamente. 

Quando Jesus disse “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado”[2], na minha recepção, o diabo deve ter pensado assim: “Opa, taí o segredo para acabar com esses cristãos, dividi-los!”. Acontece que os primeiros cristãos estavam no calor da fé e eram unidos demais. Foi preciso trabalhar muito, mas finalmente a estratégia começou a contar com a colaboração dos “cristãos?”. Muitos participantes de igrejas estão aderindo à moda “dessexualizar/sexualizar”, há momentos em que eu até me pergunto se a inclinação sexual é questão de opção ou imposição, porque há os que querem fazer igrejas à moda do cliente. Para pizza e outros comestíveis isso até fica bom, mas, quando se trata de fé, sejamos sensatos, é melhor largar de vez do que tentar remendar o que não aceita remendo.

Fato é que há um desequilíbrio na fórmula de direitos. O problema ainda não está atingindo a organização o suficiente para produzir uma reação em conjunto. Em lugar de gerar fidelidade, está gerando conivência de alguns, apatia de outros, alguns estão ocupados com outros pecados e nem podem jogar pedra nesse telhado de vidro... Enquanto isso, a palavra verdade é tirada do dicionário, as pessoas aderem ao novo sistema, a liberdade entra em colapso e as pessoas morrem, morrem e morrem...  


[1] Houaiss – versão online – 2011.
[2] Mateus 12:25

terça-feira, 3 de maio de 2011

A questão como questão


“Não existe arte que possa decifrar o sentido da alma pela face”[1]. Essas palavras revelam, de certa forma, a complexidade da alma e o quanto é difícil avaliar todo o sentido do que está oculto em cada pessoa. Há os que acreditam ler as pessoas, mas, o que temos, muitas vezes, são pessoas julgando outras por aquilo que elas mesmas são e sentem... Porque entrar no coração de outros não é tarefa realizável.


A citação foi retirada de Macbeth – Shakespeare - e ela nos dá material para muitas páginas de considerações, mas aqui eu quero deixar apenas uma delas: o caminho mais curto para o ser, ou não ser, é a escolha. Para saber quem somos e o que realmente mostramos ser, um bom caminho é olhar para as escolhas que fazemos. 

O grande problema que Macbeth enfrenta é o conflito existente no “estar em cima do muro”. Isso se manifesta na divisão entre a ambição e a falta de coragem; no querer ganhar, ainda que de forma ilegítima, porém, que seja outro a realizar a tarefa suja. Em geral, o ser humano é inclinado a não admitir seu erro, e, para escapar de qualquer acusação, aponta a atitude do outro como razão para sua própria ação.

Os textos de Shakespeare apresentam elementos comuns. Hamlet diz “Ser ou não ser, eis a questão!” como ideia; e Macbeth mostra essa frase em seu conflito no agir; Fernando Pessoa traduz essa mesma visão ao dizer “Não ser é outro ser”.  Logo, temos aí duas opções: ser ou não ser. Duas opções já podem apresentar difícil escolha, especialmente quando surge a terceira: eis a questão!  Colocar essa expressão final nas opções de ser ou não ser se constitui na terceira e mais cruel postura, a de ter dúvida e permanecer em uma eterna pergunta. 

Escolher ser só ambição e agir em conformidade com essa escolha entra em choque com os conceitos éticos e morais que regem o comportamento da sociedade; escolher ser correto e paciente implica em, talvez, não alcançar alvos pessoais ousados. Também é preciso apresentar uma face de conformidade com os conceitos da sociedade; ou isso, ou mudar o pensamento social para acomodar propósitos sórdidos. Isso, porém, não é tarefa para um dia, leva anos. Anos de “não é bem assim”, “é só uma maneira de ver”, “agora não é mais desse jeito”, “precisamos nos ajustar às novas demandas”... E por aí vai. Até que, um dia, não é mais necessário esconder o mal interior, porque o mau já não é tão mau assim, é até muito bom se você considerar que... (aqui aparecem as argumentações dos ajustes de novos conceitos morais - ou imorais).

Muitas vezes, o ser envolve assumir opiniões e atitudes que não são aceitas pelos que se colocam como juízes das ações alheias, ou mesmo a própria pessoa se condena nessa escolha; por outro lado, o não ser pode significar abrir mão do que a alma guarda como desejo maior. Ficar na dúvida guarda o perigo de viver sem sequer existir. De qualquer maneira, as consequências SEMPRE existirão para qualquer posicionamento ou falta dele. E um dia a conta chega. Bem-aventurados os que tiverem saldo para pagar...

Que fique a reflexão:

Ser!?

Não ser!?

O muro!?

O preço!!!



[1] SHAKESPEARE, William. Macbeth; Hamlet, príncipe da Dinamarca. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
Imagem: Angel Boligan