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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre o perdão...

Quando escrevemos filosoficamente, devemos ter o cuidado de fazer perguntas ao texto para nos certificarmos de que realmente expressamos nosso pensamento e não apenas formulamos frases de efeito. Nós precisamos também saber quem somos para que nos posicionemos de acordo com nosso sistema de valores; isso é algo que tenho insistido, exatamente por perceber que algumas afirmações não parecem andar junto com o papel social que as pessoas desempenham. 

Exemplo disso foi um texto escrito por uma pessoa que, com base nas informações que tenho, é cristã. Dizia o seguinte: “Não chego ao cúmulo de oferecer a outra face, que isso é coisa pra santo. Perdoo, mas me blindo. Se aprontou uma vez, aprontará outra. Fico na minha, me fortaleço e trato de viver cada dia melhor – nada irrita mais nossos inimigos”.

Fica claro que a pessoa está falando sobre o perdão. Nesse assunto, temos duas posições a tomar: uma baseada exclusivamente em nossa disposição de ânimo sobre a questão e a outra baseada no ensino cristão. A primeira é fruto de nosso repertório, que pode ter ou não influência cristã; a outra é a aceitação integral dos ensinos de Jesus. Quando a pessoa se posiciona como cristã e expressa uma opinião diversa daquela ensinada por Jesus e registrada nos evangelhos, temos uma grande contradição. Foi o que notei no texto citado.

A primeira frase diz “Não chego ao cúmulo de oferecer a outra face, que isso é coisa pra santo.” – ao dizer que oferecer a outra face seria o “cúmulo[1]”, além de colocar o fato de oferecer a outra face como um exagero, ainda diz que não faria tal coisa. A segunda frase confirma a anterior “Perdoo, mas me blindo[2]”. Essas afirmações vão de encontro ao ensino cristão expresso em Mateus 5.38-48[3]. Não haveria qualquer problema de alguém pensar assim, o problema é, se posicionando como uma pessoa cristã, bater de frente com o próprio fundador do pensamento cristão: Jesus Cristo.
 
A terceira frase é uma afirmação, no mínimo, preocupante: “Se aprontou uma vez, aprontará outra.” – Por um lado é uma afirmação redundante se pensarmos que estamos sujeitos a errar e voltar a errar, afinal, já foi dito que “herrar é umano”(sic); por outro lado, fica subentendido que, ao afirmar isso, a própria pessoa jamais cometeu erro algum contra outras pessoas. Sim, porque o rigor do tratamento indica que a própria pessoa não dá mais chance a quem errou; dificilmente alguém gostaria de ser tratado com esse rigor. No final do texto: “Fico na minha, me fortaleço e trato de viver cada dia melhor – nada irrita mais nossos inimigos.” – O texto parece indicar que a pessoa que comete um erro contra outra se torna inimiga. Se tomarmos isso como princípio para nossas vidas, viveremos isolados; começaríamos eliminando nossa família. A menos que apliquemos isso apenas com os de fora de nossa família. Mas no trabalho ou em qualquer outro ambiente também seria um problema. Sempre precisamos uns dos outros em algum momento... Mesmo aquelas pessoas que já aprontaram conosco! E quem nunca errou que atire a primeira pedra!!!



[1] Excesso, acréscimo não admissível. (Houaiss versão on line)
[2] Tornar(-se) resistente ou imune a ações ou influências danosas; proteger(-se), guardar(-se). (Houaiss versão on line)
[3] Bíblia

3 comentários:

  1. Oi Loudes, saudade... Quem sabe, sabe não é mesmo? Quem ainda não sabe, infelizmente aprenderá ás duras penas da vida! Abraços, Ana Paula.

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  2. Ah, Lourdes ia me esquecendo -> amei esta figurinha que vc postou: muito precisa!!! Acertou em cheio..kkkk

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  3. Não é?! Achei muito legal também! bjs

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