Pesquisar este blog

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nem tudo que é luz...


Para entender alguns textos é preciso um repertório que corresponda ao que está expresso, muitas vezes de maneira codificada. Vejamos um exemplo:


Essa propaganda faz uso de diversos recursos textuais para transmitir sua mensagem – explícita e implícita. Para as mulheres a propaganda transmite a ideia de que o homem que usa aquela marca de cueca é “o cara”. Para os homens fica o apelo de ser “o cara” usando a tal marca. O que talvez o consumidor não pare para analisar são os recursos que dizem mais que isso.

Logo de cara o nome do modelo é citado na propaganda, recurso que não costuma ser muito utilizado, especialmente quando o nome faz um jogo de ideias com múltiplas interpretações. O nome “Jesus”, além de não ser dos mais comuns, é associado ao maior grupo religioso do mundo[1], e isso não é sem intenção... Não menos importante é o sobrenome do indivíduo - “Luz”, - palavra que traz um dos maiores ensinos do Cristianismo: “ser luz do mundo”[2], ou seja, ser o exemplo em ação. A associação é reafirmada pela imagem de fundo, do Rio de Janeiro, local onde se encontra a estátua do “Cristo Redentor”; para reforçar ainda mais, o modelo se coloca de braços abertos – depois disso tudo, só uma pessoa sem noção ainda tem dúvida de que aquele homem é colocado como uma figura a ser seguida... Não é essa a mensagem de quem fala de Jesus Cristo, o Filho de Deus?!

Não para por aí... A marca do produto é uma palavra de origem inglesa cujo som se associa com o verbo mexer na terceira pessoa do presente do indicativo – mexe – ou seja, na conjugação seria “ele mexe”. Novamente aí, temos a duplicidade de sentido, porque mexer, no contexto, tanto pode ser “assediar com gracejos de cunho sexual; flertar” como também “menear os quadris; rebolar”. A imagem complementa a ideia de sensualidade, de apelo sexual. Penso que um cristão não fica muito confortável com esse uso “indevido” de intertextualidade...

Passemos adiante... A frase complementa o “Jesus Luz Mash.[...]” dizendo “com ela [...]”. Se o que veio antes era apelo à sensualidade, não menos o final, uma vez que a palavra grifada é um pronome pessoal que deveria substituir um nome que já foi mencionado, porém, quebrando a regra, o nome não foi mencionado em nenhuma parte do texto. Há o pressuposto de que o leitor já sabe de quem se trata. O repertório do leitor deve conter a informação de que Madonna, cantora e símbolo sexual, teve um possível relacionamento amoroso com o modelo da foto e que esse fato foi notícia de jornais e revistas. A menção de um símbolo sexual ligado ao nome do modelo só acentuaria o cunho sexual da mensagem.  

O ponto culminante fica para o final... Ao usar “ela” depois de tantos indícios anteriores para que o leitor soubesse de que “Jesus” o texto faz menção, temos aí uma intertextualidade com uma frase de John Lennon, dita em 1966[3]: “Nós somos mais populares que Jesus”, que depois foi repassada como "Somos mais famosos que Jesus Cristo". A propaganda usa, de fato, a ideia de que Madonna é mais famosa que Jesus, isso porque muitas indicações são dadas para que o leitor saiba quem é Jesus, mas isso não se faz necessário quando se trata da cantora, porque um simples pronome já é suficiente para que todos saibam.

Isso é que eu chamo de jeito perfeito de fazer engolir sapo. O cristão que compra a tal da cueca nem imagina que está ajudando a financiar uma afronta a sua própria fé. Sim, porque, em sã consciência, nenhum cristão assinaria embaixo dessa propaganda, muito menos ajudaria a financiar tais ideias. É ou não é?!

[1] Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Principais_grupos_religiosos
[2] Bílbia – livro de Mateus 5:14, 16; 6:22, 23 e 10:27


2 comentários: