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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O encoberto a descobrir...


Paranomásia ou paronomásia é uma figura estilística que consiste no emprego de palavras com som semelhante numa mesma frase, também conhecido como trocadilho. Os trocadilhos são recursos retóricos bastante usados em discursos humorísticos e publicitários. Para fazer trocadilhos é importante conhecer o significado das palavras para que eles façam sentido e cumpram sua função retórica.

É importante lembrar que os sentidos das palavras se fazem pela vivência; uma palavra que, em um determinado momento, tem um sentido pode adquirir novos sentidos se fizermos novas associações. Um bom exemplo disso é a palavra medíocre, que no sentido original quer dizer “de qualidade média”, porém, no sentido pejorativo, a palavra ganhou o sentido de coisa de qualidade ruim.

Para fazer bons trocadilhos também é importante conhecer o idioma, por isso a língua nativa nos permite maiores realizações. Em outros idiomas, no entanto, precisamos de alguma vivência para arriscar alguns trocadilhos...
 
Alguns exemplos interessantes de trocadilhos:

"Quem casa, quer casa" (provérbio).
"Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre António Vieira).
Traduttore, traditore ("tradutor, traidor" em italiano).
Are you here for vacation or vocation? (Você está aqui em férias ou a trabalho? - inglês)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Questões de leitura

Um dos maiores desafios para o leitor brasileiro - se não for para qualquer leitor - é aprender a interpretar textos, levando em consideração o aspecto discursivo – ou seja, o que está escondido nas entrelinhas... Ou revelado descaradamente nas linhas...

Um colunista resolveu mostrar sua opinião a respeito de palavras violentas sobre um assunto que deveria sensibilizar as pessoas, mas a sua forma de expressar deixa mais dúvida do que simpatia quanto aos seus argumentos. A menos que o leitor já esteja com opinião formada a favor do escritor.

Vejamos o título: O câncer de Lula me envergonhou[1] – Como assim? Desde quando uma doença de uma pessoa envergonha outra?! Ah! Sim. É apenas uma frase sensacionalista para despertar a curiosidade e o desejo de ler o que ele escreveu. O bom leitor já vai perceber que não haverá tanta indignação assim, já que o mais importante não é o assunto tratado, e sim a leitura.

A indignação: Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo. – Aqui o leitor até se solidariza, afinal, ninguém merece ser tão enxovalhado só porque está doente. “Vergonha” e “enjôo” não seriam exatamente os sentimentos próprios que alguém descreveria diante de tal fato, mas que seja. A questão intrigante surge no trecho seguinte.

O exemplo das ações e palavras ultrajantes: Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria? – Não fosse o assunto tão triste, seria de chorar de rir. Que ironia é essa? Lula se tratar no SUS é uma tolice sem tamanho, que seria resultado de muito ódio de quem deseja isso? Tolice, por quê? Ele é melhor que todos os que se tratam no SUS? Foi por ódio da população menos favorecida que ele manteve o SUS?

Aspecto político: Lula teve muitos problemas --e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social. – Qual era o assunto mesmo? Ah, tá... Ele estava falando de comportamento humano diante de uma tragédia. Por pouco, pensamos que era uma avaliação política...

O assunto retorna?: No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia. – “Transparência” e “altivez”... Ele fala da doença ou do comportamento político? Quanto ao “todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia”, já deu para perceber que “todos” é um número muito grande para um país que revela desigualdade em muitas áreas, especialmente no sentido de valor do ser humano... Precisamos mais do que ideias para mudar isso!

Pegando pesado: Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância. – Esse final é apoteótico. De fato, há muito lixo na internet, escrever opiniões agressivas é só uma ponta do iceberg. Mas quem se importa quando o ofendido não é da “elite”?!

Propaganda do propósito: Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência. – Seria esse o objetivo desse artigo? Parece que não, porque um bom número de leitores se revoltou com os comentários, que em lugar de educar, descarregou, educadamente, a raiva pelo mau comportamento desses que precisam de educação.

Crédito: Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania. – Essa informação é uma faca de dois gumes: por um lado, coloca o autor como alguém importante – afinal ele é o cara que está em Harvard, ensinando cidadania, sabe do que fala; por outro lado, deixa o leitor pensando por que ele está lá quando o Brasil está tão “desconfigurado” no exercício da cidadania.

Como disse o sábio, elas justificam ou condenam...


[1] Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/999070-o-cancer-de-lula-me-envergonhou.shtml.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Vestir a camisa

“Vestir a camisa” é uma expressão muito comum, especialmente se referindo à relação do empregado para com a empresa em que trabalha. “Vestir a camisa” quer dizer “comprometer-se com”.  E para que isso aconteça é preciso que o empregado se sinta como parte de um time. Se isso não acontece, a situação já tende a se complicar. É preciso acreditar que faz parte do grupo e compreender o objetivo de tanto esforço. Um fator complicador é que, algumas vezes, a empresa tem um perfil que não se encaixa no empregado. Para manter o time no foco é preciso que a empresa selecione pessoas com o perfil que seja adaptável ao seu plano de trabalho. 

Um exemplo que pode ilustrar a ideia do perfil empresa/funcionário é o trabalho das equipes de voo das companhias aéreas. Até algum tempo atrás era comum a formalidade nos comunicados feitos durante a viagem. A Webjet, ao contrário disso, entrou no mercado com uma proposta de descontração, fazendo comunicados ou dando instruções com uma mescla de humor, porém, não são todos os funcionários que conseguem encontrar o tom que a empresa se propõe a assumir. Outros, porém, conseguem se superar, como foi o caso de um comandante que saiu com estas pérolas em um voo de São Paulo para o Rio de Janeiro:

“Previsão de pequena turbulência de vento vindo da direita para esquerda, suficiente apenas para embalar seu soninho”;

O Rio de Janeiro está com o céu ligeiramente nublado, com nuvens escuras, também conhecidas como poluição”;

Falando sobre alguns pontos turísticos do Rio de Janeiro: “a Pedra da Gávea é o lugar onde pessoas pulam de asa delta, parapente e, de vez em quando, alguns malucos pulam sem nada”;


Sobre a igreja da Penha: "O carioca 'e(x)perto' faz uma promessa e, se alcançar o pedido, manda a sogra subir de joelhos";

“A temperatura de fora da aeronave está em 50 graus Celcius negativos. Aconselho a que permaneçam dentro do avião”.

O discurso descontraído em um ambiente que gera tensões para alguns é uma estratégia interessante, mas nem todos os funcionários responderão à altura do esperado, por questões de personalidade ou outras. Aqueles que têm uma veia humorística acentuada, no entanto, se sentirão bem à vontade usando seu verdadeiro potencial, o que é bem mais interessante do que se meter em uma “camisa de força”...