Tem coisa mais estranha
do que um ateu reclamando de Deus?! Seria o mesmo que minhas meias
desaparecerem e eu propagar minha raiva do saci pererê porque minhas meias
sumiram... É, pode parecer estranho, mas eu não acredito na existência de saci,
logo, se minhas meias sumiram, provavelmente eu fui descuidada e joguei em
qualquer lugar... Ou a Pucca[1]
pegou, já que ela adora pegar nossas meias e sair brigando com elas pela casa.
Eu tenho visto dois
tipos de ateus: os que se acham inteligentes demais para acreditarem em uma
coisa tão básica como Deus; e os que estão com raiva de Deus: qualquer menção a
esse Ser os deixa furiosos. Pode existir outro tipo de ateu, mas eu ainda não
conheci. Lembro-me de ter conversado com um há muito tempo que parecia bem à
vontade com o fato de não crer e respeitava outros pensamentos, mas não lembro
o suficiente para dizer se ocuparia um terceiro tipo.
Discutir religião é
algo sem sentido, porque, acreditando ou não em Deus, acho que todos devem concordar
que a liberdade de escolha e de pensar deve ser garantida a cada ser humano, ou
teríamos que nos exterminar mutuamente por impossibilidade de existência. Logo,
se somos livres para escolher, não podemos discutir escolhas, mas podemos
discutir ideias. Isso é legal. É muito bom conversar com gente que tem o
pensamento bem organizado e que tem educação para manter uma conversa
mentalmente saudável.
Sobre os ateus que têm
raiva de Deus, podemos notar que, em geral, a raiva é produzida por alguma
experiência desagradável em algum momento da vida e que, sem poder lidar com o
fato, a pessoa atribui a Deus a culpa. É muito comum pessoas que tiveram
relacionamento traumático com o pai atribuírem a Deus as características do próprio
pai. A psicanálise apresenta boas explicações para o fato. Ainda assim, é
esquisito alguém reclamando ou discutindo sobre as ações de um ser que supostamente
não existe. Fica pior quando começa a discussão sobre a Bíblia. Se a pessoa
também não crê na Bíblia como palavra de Deus, por que discutir a ‘ficção’? Se
não é a Palavra de Deus, logo a pessoa toma como ficção, e não é normal que as
pessoas comecem a discutir uma obra totalmente fictícia. Talvez a pessoa
precise “travar o seu pacto ficcional”[2]
ou admitir que está diante de um gigante invencível: sua fé ferida...