Os programas de
incentivo à leitura crescem em número, a venda de livros aumentou, a inclusão
no sistema de ensino melhorou, mesmo assim as pesquisas indicam que a
capacidade de leitura do brasileiro ainda é bastante deficiente. Pior ainda, 2
em cada 5 com formação superior têm nível insuficiente de leitura – dados do
Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa.
Saldos tão baixos
diante de um investimento que deveria produzir melhores resultados podem ser
explicados especialmente pelas deficiências na formação de base somadas ao grau
elevado de falta de compromisso com a qualidade. Ninguém desenvolve uma amizade
com o texto de uma hora para outra... É importante investir ao longo da vida
para ir melhorando cada vez mais. Porém, em um tempo de pessoas imediatistas, a
expectativa de sucesso é para ontem. Os melhores resultados são apresentados
nos primeiros anos de estudo, a formação superior é de baixa qualidade porque
os estudantes querem o diploma, o título, mas o conhecimento é considerado secundário.
“Como ajudar pessoas
que têm dificuldade para entender o que lê?” – é uma pergunta que sempre me
faço. Eu desconfio que as dicas para entender melhor o texto não fazem sentido
quando a pessoa não tem ideia do que fazer com a informação ou quando o leitor
é limitado pela falta de experiência. Um exemplo disso é quando a dica para
ajudar é: “Encontre o tema central do texto”. E quando tudo no texto parece
relevante para o leitor? E se o leitor tem um repertório que o conduz para uma
direção diferente do esperado? E se o texto remete a outro texto que revela o
tema central considerando que o leitor conhece e capta a intertextualidade, mas
ele nem sequer tem ideia do que está implícito?...
A pouca familiaridade
com texto pode ser um fator que limita, mas acredito que o pior inimigo da
leitura ainda é a falta de interesse em deixar de ser superficial e partir para
a investigação séria e trabalhosa. Querer aprender é fundamental para ir além.
Se a pessoa não quer aprender, muito pouco resta ao professor. No máximo,
tentar acordar o gigante chamado “motivação”... E esperar que o aluno distraído
entenda que a parte de colocar o gigante em ação depende exclusivamente dele.
Para quem não gosta de
ler, uma dica é não começar com leituras longas. Se você quiser incentivar
alguém a ler, comece com doses homeopáticas. Dê textos curtos diariamente.
Varie os gêneros textuais. Um pouco de leitura todos os dias vai despertando
interesse para ir ampliando, permitindo que o prazer da leitura se instale. Mais
do que ler muito, é preciso incentivar a ler bem... A quantidade de textos deve
ficar por conta do leitor – que seja bom enquanto dure!